Acordamos mais uma vez sem pressa, já sabíamos que o mar estaria pequeno. Isto é uma tremenda falta de sorte aqui no Hawaii, porque entre os meses de novembro e março, não existe lugar no planeta Terra que dê mais onda do que o North Shore de Oahu, exatamente onde estamos. A coisa boa de eu ter muitos dias nesta viagem é que este tipo de coisas não tem me deixado tão preocupado, pois eu sei que as ondas virão. Nestes dias, tenho tentado aproveitar de outras formas, curtir o lugar, as pessoas, apreciar a natureza, que é linda aqui.
O Finha apareceu aqui em casa logo cedo, estamos acordando sempre às 7:30h, e fomos caminhando até Waimea Bay, aqui ao lado, para realizar mais um dia de treinamento. O sol estava brilhando, não havia nuvens no céu e a praia tinha vários banhistas.
Começamos o treinamento correndo ate o canto oposto ao que chegamos, depois caminhamos até um pequeno gramado que existe no caminho para a areia, lá fizemos os abdominais e apoios. O Finha reclamou um pouco porque está com uma costela machucada por um caldo que tomou no último dia de ondas grandes aqui na ilha, ao chocar-se com a prancha. Deixamos o gramado, atravessamos a areia novamente, e mergulhamos no mar. A água é bem clara aqui, e a temperatura muito agradável. Nadamos de uma extremidade à outra da praia e depois voltamos. Saímos do mar, pegamos nossas roupas, tomamos um ducha, e estávamos deixando a praia, isso tudo não durou mais que 15 minutos. Então eu disse:
- Vamos ficar um pouco mais aqui, está um dia bonito. Vamos aproveitar.
- Tá, então vamos sentar nas pedras ali no canto da praia – Disse o Finha.
Sentamos, ficamos lagarteando um pouco no sol, curtindo o visual da famosa baia de Waimea, quando de repente vimos uma movimentação na praia. Muitas pessoas olhavam para dentro do mar, e o salva-vidas falou algo no alto-falantes. Sim, aqui os slava-vidas tem guaritas super estruturadas, até com alto-falantes. Logo em seguida, o quadriciclo do Water Patrol foi até a beira da praia e tirou todo mundo de dentro da água. Só então, ouviu-se de novo:
- Everybody, leave the line up. We`ve seen a shark.
Nós rimos de nervosos, tínhamos acabado de nadar de um lado ao outro da praia e logo em seguida apareceu um tubarão por ali. Não enxergamos nada de onde estávamos, mas foi mais uma emoção da viagem.
Ainda de manhã fomos até Pipeline, ver como estavam as condições, bem fracas, por sinal. Comprei um dvd que conta toda história do Pipeline Master, que iniciou-se me 1970, e fui para casa assistir. Através deste documentário, eu e o Cau ficamos sabendo que várias vezes a histórias do surf foi mudada dentro deste campeonato.
À tarde, fomos mais uma vez ver as ondas, para o lado de Rocky Point, Pipeline, Off the Wall que ficam para o lado leste de nossa casa. Acontece que para o lado oeste também tem boas ondas, as quais só tínhamos visto quando fomos ao supermercado. Um amigo nosso, Marco Giorgio, disse que tinha visto boas ondas em Laniakea, que fica para o lado oeste. Voltamos para casa um pouco tarde para o surf, eram quase 17h, aqui anoitece lá pelas 18:30h. De qualquer forma, achamos que seria rápido chegar em Laniakea. A primeira dificuldade foi o fato de a bike lane acabar bem na frente da nossa casa. Tínhamos que ir no acostamento, com o carros passando bem rápido ao nosso lado, fazendo as pranchas moverem-se com força, sob nossos braços. Assim que vimos a primeira ondas, são várias, uma ao lado da outra, paramos para olhar, mas estava tão pequeno que resolvemos continuar pedalando. Encontramos um outro reef, e neste conseguimos a informação de que a onda que queríamos surfar estava há mais 10 minutos de bike dali. Talvez mais de dez minutos se passaram quando paramos em uma pequena prainha, onde haviam alguns surfistas, mas onda lamentáveis. Aquilo desanimou um pouco, porque já estava anoitecendo. Olhando para o lado esquerdo, via-se uma outra onda, maior, com mais gente. Perguntamos para um surfista e ele confirmou que lá, sim, era Laniakea. Pegamos de novo a estrada e chegamos quando o sol já havia se escondido por trás de grandes montanhas do lado oeste da costa. Pulamos na água o mais rápido possível e remamos com toda nossa vontade, para aproximarmo-nos o quanto antes daquelas ondas.
Ao chegar lá fora, vi um surfista pegar um onda linda, fazendo manobras bonitas de serem apreciadas. Abri um grande sorriso no rosto, olhei para trás, mas o Cau havia sido pego por uma onda, e estava longe do meu alcance visual, ele demorou um mais para chegar ao line up. Logo depois que eu estava lá fora, entrou um boa onda para mim, como se tivesse sido encomendada. Remei nela, fiquei em pé, senti a força deste oceano sob mim, pois rapidamente atingi um boa velocidade. Fui até a base da onda, fiz uma curva que me projetou para cima, apenas passei velozmente pela sessão seguinte, descendo com ainda mais rapidez, e virei novamente na base da onda, deixei que a prancha flutuasse com a máxima velocidade, abri um pouco os braços e fiz um grande arco, cortando a água com suavidade e fluidez, apenas com o movimento do corpo. Virei-me, então, para o lado oposto ao qual vinha, estava indo contra a espuma. Apenas pisei na rabeta e deixei que o fundo da prancha batesse contra a onda, completando, assim, uma clássica manobra do surf, o round-house cut back. Naquela hora, esqueci de tudo, das minhas costas, do joeho, da pedalada sem fim, do vento, que eu sabia que soprava na direção contrária à nós no retorno para casa, do cansaço, até da CPMF, que a Nai tinha me dito que iria ser substituída por um outro imposto, e aquilo veio martelando minha cabeça por todo trajeto até ali, Porque permitimos este tipo de coisa no nosso país? Que palhaçada que fazem com nosso dinheiro! Foi um momento marcante, muito bom de se viver. Desses que fazem valer a pena todos os esforços que empenhamos para surfar ondas perfeitas.
Ainda rolaram outras ondas, vi o Cau pegando uma das boa, mas a cada série escurecia, e enxergávamos menos. Saímos do mar em seguida, e a pedalada de volta foi bem pesada, as coxas sofreram na briga contra o vento, mas pareceu-me mais rápido. A ansiedade de chegar sempre acaba tornando os caminhos mais longos.
Em casa o Julião já nos esperava ansioso pelo jantar, fizemos uma salada do livro do Oliver, de batata com abacate, complementada com arroz. O Finha ainda apareceu por aqui para nos arrastar para a balada, mas ninguém tinha condições, eu mesmo dormi na sala, na frente da televisão.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
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Um comentário:
Luquinhas
Pode surfar tranquilo aí q se depender dos ativistas políticos aqui só iremos reduzir impostos no Brasil, jamais aumentar...
Grande abraço e continua escrevendo.
Bjs
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