Aqui no Hawaii, pelo fato de haverem vários tipos e tamanhos de ondas, os shapers, profissionais que fazem as pranchas, colocam todas as suas criações e inovações em teste. As possibilidades são enormes, então a ilha torna-se um campo de provas de tudo que há de mais moderno ou clássico no surf.
Foi mais ou menos isso que vimos ao surfar em Laniakea pela manhã. Primeiro que havia todos os tipos de surfistas na água, o crowd estava intenso, eram homens, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, fortes, magros, gordos, morenos, loiros, negros, mulatos, branquelos, tinha de tudo. Segundo, podia-se encontrar todos os tipos de pranchas ali, triquilhas, quadriquilhas, longboard, shortboard, fishboard, retro-model, monoquilha, biquilha, stand-up board, até uma prancha com dois bicos apareceu lá no meio de todo mundo.
A onda de Laniakea é o que eles chamam de mellow, ao menos nos dias pequenos, como novamente o mar se apresentou, por isso a diversidade estava enorme. Já aprendi aqui no Hawaii, que não se pega muitas ondas por session, como acontece no Brasil, então você aprender a apreciar cada onda que passa, mesmo que não seja surfada por você. Sempre fui de olhar muito as ondas das outras pessoas que estão na água, e aqui estou aplicando isso mais ainda. Até porque tem tanta gente boa surfando, que é um aprendizado constante observar o surf dos demais. Quando o surfista não é bom, fico imaginando o que eu faria naquela onda, é um outra forma de curtir o surf.
Saímos depois de umas duas horas de surf. O sol estava bem forte, parecia que não ia chover muito. Dirigi até Haleiwa porque queria ver se conseguia conversar com alguém da imobiliária que aluga casas em um condomínio chamado Kuilima, que fica em Turtle Bay. Consegui algumas informações sobre valores e datas e combinei de visitar o apartamento outra hora.
Quando estávamos indo embora, o Teté, um surfista gaúcho que não via há muito tempo, acenou para mim. Encostei o carro, cumprimentamo-nos e ele pediu uma carona pois estava indo na mesma direção. Ao seu lado, estava um menino de cabelos loiros e nariz queimado, bem moleque. Logo que ele entrou começamos a comentar sobre as ondas, sobre o tempo que não nos víamos,e eu notei que ele conversava com o menino num volume de voz mais baixo, mas não me parecia português, então indaguei:
- Que língua você fala com ele, Teté?
- É italiano.
- Sério, que legal!
- É, eu estou morando lá há 4 anos. Tenho uma escolinha de surf na Itália.
Achei muito curioso uma escola de surf na Itália. Sempre relacionamos este pais com outras coisas, jamais com o surf, mas fiquei feliz por ele. Contou-nos que o molequinho é uma grande revelação, já ganhou vários campeonatos e viajou bastante para sua idade.
Foi inevitável não lembrar da Aninha enquanto olhava aquele menininho parlando dentro do carro. Houve um momento em que vi ele questionar o Teté:
- Ma que língua parlam?
- Portuguese – respondeu meu amigo.
Contei para o Leonardo, em inglês, que tinha feito umas duas semanas de aula de italiano, mas acabei abandonado porque minha professora era surda e gritava demais. Disse-lhe que tinha uma amiga, Ana, que continuou fazendo, e também ficou surda, ainda bem que neste semestre mudou de professora e voltou a falar mais baixo (rsrsrs). Solicitei que o piccolo bambino falasse mais em italiano, mas ele ficou sem graça e não tinha o que falar. Largamos ele em Rocky Point, Leo agradeceu em italiano e despedi-me do Teté, que convidou-nos para tomar um chimarrão com outros gaúchos que estão no North Shore, inclusive morando, como é o caso dos irmãos Lummertz.
Chegamos em casa antes das 11h, fizemos um smoothie do Oliver (valeu, Oliver!), de banana e peanut butter, uma receita super energética. Uns quarenta minutos depois, apareceu aqui em casa o Gui, instrutor de SwáSthya que mora em Oahu e está divulgando esta filosofia na ilha. Eu já estava aqui há 10 dias e ele ainda não tinha conseguido aparecer aí para nos vermos. Me deu uma alegria grande por encontrar um irmão de Yôga por aqui. Eu entreguei para ele alguns incensos e livros que trouxe. Depois saímos para surfar novamente na mesma onda.
Chegando lá as condições pareciam piores do que pela manhã. Fui até o carro do Gui conversar um pouco com ele, tínhamos ido em carros separados pois ele tinha que sair correndo para dar uma aula no meio da tarde. Enquanto ele se arrumava falei:
- Bah, Gui, acho que vou ficar aqui fora só olhando vocês.
- Pô, Lucas, fiquei um tempão esperando vocês, vim até aí. Vamos surfar, meu. Nem que seja para ficar conversando lá fora.
Dei risada. Realmente, era sacanagem não acompanhá-lo. Saí dali, me arrumei e caí no mar. No fim das contas, acabei pegando uma quantidade bem maior de ondas do que pela manhã, pois já não tinha tanta gente no mar, e as séries estavam mais constantes, talvez pela maré seca. Conversei bastante com ele, que me contou das dificuldades de iniciar um trabalho tão distante do Brasil, com pouca estrutura e material humano. Não deve ser fácil estar sozinho aqui, a ilha é enorme, a cultura é distinta e as pessoas que trabalham com a nossa filosofia são bem pouco profissionais.
Contei-lhe que quando cheguei aqui, a menina que mora na casa, a Jeniffer, me disse que tinha começando há poucas semanas a praticar algum tipo de Yôga. Ela disse que funcionava assim:
- Ah, a gente vai lá, e o lugar é muito lindo, tem vários pássaros, nem precisa ligar o som. Fazemos toda aula e no final ele passa um chapeuzinho e colocamos ali uns 2 ou 3 dólares.
Isso dá uma revolta em quem vive deste trabalho. Como uma pessoa vai sobreviver se seus alunos pagam 2 dólares por aula, mais ou menos 24 por mês, ela faz 3 vezes por semana. Eu só posso pensar que a pessoa que faz isso tem outro trabalho, ou aprendeu de uma forma tão rasa o que ela ensina, que não tem noção do valor desta filosofia, e cobra qualquer coisa mesmo. Imagino o quanto isto atrapalha meu amigo, que quer fazer um trabalho profissional por aqui.
O Gui disse que é bem difícil, mas tem lugares legais e está melhorando. Ele pretende abrir sua própria escola aqui. Torço por ele, até porque virei mais vezes pra cá, apenas para ministrar classes e ajudá-lo, obviamente (rsrsrsr).
Depois que ele foi embora, eu e o Cau não demoramos muito a sair da água. Viemos para casa, comemos um pouco mais e resolvemos dar “aquela deitadinha” antes do final do dia. Nem sei que horas acordamos, mas já passava das 21h. Por isso, demorei um pouco mais para dormir à noite. Fiquei conversando com alguns amigos no Brasil já que para eles, era a manhã de sexta-feira. Inclusive a Júlia me passou várias receitas para eu preparar por aqui. Espero que amanhã coloque alguma em ação. Felizmente, caiu um chuva bem forte e bonita durante a madrugada e fiquei a apreciá-la, aguardando o sono chegar, macio como as gotas lá fora.
sábado, 22 de dezembro de 2007
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