- Ô Lucas, teu encontro com o mulher não era às 10h?
Tinha esquecido totalmente que havia combinado com uma corretora de encontrá-la num mercado próximo à nossa casa para ir conhecer o apartamento que pretendo alugar. Faltava 10 minutos para o horário combinado e acordei num pulo. Liguei para ela, que remarcou o local do encontro para o Ted`s Bakery, uma padaria em frente à Sunset Beach. Dirigi até lá esfregando os olhos, estacionei e esperei por cerca de 30 minutos, e nada dela aparecer. Achei que tinha entendido errado, ou que havia me desencontrado dela mesmo, e voltei à casa para ligar novamente.
Ela contou-me que achou estranho porque logo que eu cheguei lá, ela saiu dirigindo para que eu a seguisse, mas logo em depois eu havia sumido. Ela me contou que eu estaria numa caminhonete azul, e disse-lhe que ela tinha feito confusão, meu carro é prata e eu não a tinha visto em lugar nenhum. Remarcamos para segunda-feira pela manhã. Acho que terei que remarcar, porque vai estar dando altas ondas. Ao que tudo indica, no dia de Natal e até o Reveillon, vai dar muita onda boa por aqui.
Eu e o Cau fomos para Waimea Bay para mais um dia de treinamento. Fizemos nossos abdominais, apoios e conduzi uma sessão de ásanas, a técnica corporal do Yôga. Foi uma forma diferente de ensinar, porque normalmente não estou muito preocupado em fazer as técnicas enquanto estou dando
- Bah, mas essa é muito boa. Alonga tudo aqui... Nossa, se fizermos isso todo dia, antes do ano novo estaremos muito bem.
Saímos dali e fomos dar um mergulho no mar, aproveitamos para pular de uma pedra enorme que existe no canto da praia.
Estávamos caminhando de volta para casa, quando encontramos o Bruno e sua namorada Sabrina, pegando praia no canto oposto ao que estávamos. Bruno estava com uma máscara de mergulho e convidou-me para carregar pedras no fundo do mar, uma prática que os surfistas de ondas grandes fazem para preparar-se para seus desafios dentro do mar. Ele estava com uma máquina de tirar fotos dentro da água e ficamos fazendo aquilo por um bom tempo. Gostei bastante da experiência, a gravidade diminui dentro da água e a consegue-se pegar pedras
O Júlio estava consertando pranchas em sua pequena oficina atrás de casa, e disse-lhe que iria cozinhar:
- Me bota dentro desta barca – disse-me ele.
Coloquei um Caetano para tocar, comecei a preparar o Curry de arroz e lentilhas. Achei que seria pouca comida e resolvi preparar a torta de couve-flor, substituindo o ingrediente principal, que não tínhamos em casa, por brócolis, que já estava na geladeira há algum tempo. Esta receita foi uma das primeiras que fiz em toda minha vida, excluindo, é óbvio, Nissin Miojo e afins, na época em que morei em Ibiraquera. Eu simplesmente adorava fazer aquela torta. Veloso cantava Trilhos Urbanos, o cheiro do farelo de trigo, um dos ingrediente da torta, o sol batendo na janela, tudo isso se condensou para me transportar há um tempo que já não existe, mas que aporveitei muito bem: minha época de adolescente, em que morei naquela terrinha abençoada que é Imbituba. Fiquei muito feliz com aquela sensação, lembrei que meus pais e principais amigos estão lá agora. Eu quase dançava de alegria sozinho naquela cozinha. Ali, distante de tudo que me é tão familiar para mim, em Ibiraquera, senti-me em casa.
O Cauê chegou em seguida, a comida ficou pronta, chamei o Julião. Ele entrou em casa dizendo que não pode comer curry porque lhe faz mal para a barriga. De qualquer forma, adorou a torta. Eu e o Cau detonamos tudo, precisávamos repor as energias. Depois ficamos conversando, sentados no sofá da sala. Enquanto a comida era digerida lentamente.
Ao final da tarde, fomos para Rocky Point surfar, o Zé Paulo, que já deixou a casa, mas veio aqui fazer um barbecue, disse-nos que o mar tinha melhorado. Ele tinha razão, vimos boas ondas quebrando, ao chegarmos na praia. O surf foi muito agradável, vários surfistas bons dentro da água, e mesmo assim deu para pegar uns tubos e fazer algumas manobras. Descobri que a onda de Left Rocky, é a melhor que quebra ali, por isso sempre tem tanta gente disputando-a. Minha saideira foi uma boas esquerda com manobras fortes, até a beira. Ao longo de toda session o mar só melhorou e aumento, parece que a promessa do swell está se concretizando.
O Cauê está desmaiado na cama ao lado, enquanto faço este relato. A luz está acesa, mas o garoto ronca mesmo assim. Quero acordar cedo amanhã, porque parece que as coisas vão ficar grandes a partir de agora. Além disso, um amigo do Júlio que estava aqui, disse-me que lá pela 5 da manhã a Lua, linda e cheia, estará se pondo no mar, e não quero perder.
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