No caminho para Los Angeles conheci alguns brasileiros que estavam indo para a Califórnia fazer um intercâmbio de trabalho em Big Bear, numa estação de esqui. Funciona assim, um empregador contrata eles, via agência de turismo, e eles ficam contratados por 3 meses e tem um mês de férias, já que o visto para este tipo de situação dura apenas 4 meses.
Depois conheci o mais engraçado dos que estavam no avião, o Vinícius, um mineiro muito figura, com um sotaque bem forte. Ele, coincidentemente, estava indo para Honolulu, mas de lá partiria para Maui, depois descobrimos que, na verdade, tinha que ir para o Kauai. Contou-me que queria ter ido trabalhar num cassino, como crupiê. Só que para isso, teria que ir um mês antes, para fazer um curso e aprender a lidar com as cartas, os jogos, os pagamentos. Como não tinha como vir mais cedo, a agência propôs que ele fosse para uma estação de esqui:
- Mas aí eu não aceitei este trem. Não gosto de frio, uai. Queria ir pra praia, ver as meninas, pegar um sol. Daí, me mandara para o havaí, mas eu não vou trabalhar no McDonald`s, não gosto daquela comida. Vou ficar só uma semana e depois vou arranjar outra coisa.
Dei muita risada com ele, nas poucas horas que estive ao seu lado. Ele ainda me disse que tinha comprado a passagem até o Kauai só para um dia depois da sua chegada em Oahu e, como não tinha onde ficar, ia fazer uma balada até o amanhecer.
Durante todo o vôo entre Miami e Los Angeles, que durou mais de 5 horas, eu não consegui dormir. Toda vez que fechava os olhos pensava nas ilhas havaianas, nas ondas, em assistir todos meu ídolos surfando ao vivo ondas espetaculares. Aquilo me tirava o sono, nem conseguia ficar sentado muito tempo, ficava caminhando dentro do avião.
Quando chegamos em Los Angeles, eu e o Vinícius fomos comer alguma coisa, pois estávamos famintos. Infelizmente, descobrimos, da pior forma possível, que as companhias aéreas do Estados Unidos não servem comida nos trechos domésticos. Eles até tem algumas besteiras para comer, batata tipo Pringles, uma bolacha gigante e uma barra de chocolate, também gigante (rsrsrs), só que eles cobram por isso. E tanto eu, quanto o Vinícius, saímos de Miami com a barriga vazia, achando que íamos comer dentro do avião. Ou seja, ficamos na batata o tempo todo e chegamos em Los Angeles famintos. Comi um beanburger, um hamburger vegetariano feito de feijão, com um toque apimentado (o restaurante era mexicano), que era uma delícia. Está certo que aquilo gerou uma fermentação ingrata na minha barriga, mas valeu a pena.
Ainda em Los Angeles, liguei para meu irmão, que estava de aniversário. Ele estava um pouco triste por conta de uma ex-namorada, e aquilo me deixou preocupado até o dia seguinte, quando liguei novamente e ele pareceu-me bem mais feliz. Falei com A Clã, o Sandro e a Nai, lá na Unidade. É muito bom lembrar daquela casinha laranja, na Ramiro Barcelos, sempre me traz boas sensações.
De Los Angeles para Honolulu foram mais 5 horas e 40 minutos. Novamente eu não dormi e o tempo parecia querer atrasar ao máximo minha chegada. Toda hora que eu olhava o relógio, parecia que sempre faltavam duas horas e meia para chegar. Neste trecho o Vinícius desmaiou ao lado de uma velhinha e eu continue conversando bastante com a Majira, uma finlandesa que mora em Sorocaba há muitos anos. Ela e seu marido, Vicko, estavam indo fazer um cruzeiro que passa por todas as ilhas havaianas.
O marido dela era uma figura muito peculiar, falava com ela em finlandês e comigo num português de americano. Ele é uma mistura de Roberto Justus com Donald Trump, e quando comentei coma a Majira que ele era parecido com o Roberto Justus (achei melhor não dizer sobre o Donald Trump, ele poderia ficar chateado. Rsrsrs), ela disse:
- Ah, muita gente fala isso, mas ele se acha muito mais parecido com o Burt Lancaster.
Achei engraçado, mas dei muita risada internamente porque o Sandro tem uma história muito engraçada sobre este ator. Depois pergunte a ele.
Ainda neste trecho conheci um australiano, que estava vindo de Nova York e iria conhecer o Hawaii, mas que não surfava.
- Na verdade eu ando de skate.
- Ah, que legal. Você é profissional?
- É, mais ou menos, porque agora eu comecei a cantar, sabe. Então, larguei um pouco o skate.
- Sério?! E o que você canta?
- Jazz.
Daí ficamos conversando bastante sobre jazz, ele me indicou um cantor tão cool quanto Chet Baker, segundo ele. Falei-lhe sobre o João Gilberto, ele até já gravou uma versão de Garota de Ipanema e Corcovado, tudo em inglês, mas estava se esforçando para aprender as versões em inglês. Achei muito esquisito um skatista quase profissional virar cantor de jazz, mas foi interessante.
Quando faltavam uns 20 minutos para a chegada na ilha, eu não conseguia mais nem falar. Ficava rindo sozinho no meu banco, às vezes celebrava com os punhos fechadas, levantava os braços, dava risada, dizia “yes!” bem baixinho. O casal ao meu lado só ria, mas eu já tinha dito para eles que era um sonho antigo.
Foi emocionante ver as luzes da cidade lá embaixo, a cada instante eu estava mais próximo de pisar em Oahu e após a aterrisagem, eu era só sorriso.
Chegando lá desembarquei, peguei minhas pranchas, que já estavam separadas, minha mochila demorou muito para aparecer na esteira, aquilo foi me dando uma aflição porque já comecei a pensar que tinha sido extraviada. Depois, a mala não vinha nunca, e o Vinícius, que estava ao meu lado, não parecia nem um pouco preocupado com o fato de sua mala não aparecer:
- Daqui a pouco ela aparece aí, sô! - A mala dele foi a última a sair da esteira.
Sai do saguão de baggage claim, e fiquei na frente esperando pelo meu grande amigo Finha, que tinha ficado de ir me buscar. Demorou uns 20 minutos e nada dele aparecer. Todos os carros já tinham passado e levado seus amigos e nada do meu brother. Comecei a ficar com raiva da Aninha (rsrsrs), que toda vez que me ouvia flaando e combinando com o Finha sobre a chegada e o encontro no aeroporto, dizia a mesma frase:
- Ah, este Finha vai te deixar esperando. Ele não vai te encontrar.
- Pára, Aninha. – E ela dava risada.
Como estava com duas mochilas, uma mala e um capa enorme de pranchas, não estava muito fácil me locomover dali. Vendo dois caras com capas de pranchas próximos a mim, perguntei se não podiam olhar um pouco minha coisas para que eu entrasse lá no saguão para telefonar. Então, um deles tirou um celular do bolso e ofereceu-me para ligar. Aceitei de imediato, porque a ligação era local. Ele logo percebeu que eu era brasileiro e disse-me que é casado com uma paulista. Este mundo é mesmo muito pequeno, né!? Aqui no hawaii, no meio do aeroporto, o cara que pára do meu lado é casado com uma brasileira...
O Finha atendeu o telefone na minha segunda tentativa e disse-me que estava chegando. Logo ele apareceu, sempre com aquele largo sorriso no rosto. Nos abraçamos bastante, eu estava com saudade deste velho amigo:
- Porra, finalmente o De Nardi veio para o North Shore!
- Claro, meu, te falei que eu vinha. Só demorei um pouco.
À caminho do North Shore, que é considerada a parte rural da ilha, fiquei impressionado com o tamanho da Downtown de Homolulu. Um cidade gigante, uma super infra-estrutura, bem diferente do que eu imaginava. Nos meus sonhos, acho que só pensava nas ondas, não na cidade. Ou, como diriam os havaianos, só pensava na country, not in the town.
Logo que entrei no carro o Finha me disse:
- Magro, estou com doze pranchas aí para vender, você quer alguma?
- Cara, na verdade precisaria de uma, mas não vou ter grana pra isso.
- Que tamanho?
- Ah, uma 6’5” - Pranchas são medidas em pés e polegadas.
- Então você vai ter que comprar uma 6’7” que eu tenho.
- Só que eu não preciso de um 6’7”, preciso de uma 6’5”.
Ele sempre foi assim, negociador, desde os tempo de colégio, quando o conheci. Nunca o vi jogar alguma coisa fora, sempre dava um jeito de vender, trocar, negociar. Se pudesse, até as pilhas do seu inseparável walkman ele vendia pra alguém.
- Cara, mas o Cauê de repente vai querer, ele disse-me que estava vindo sem prancha pra cá.
No caminho, passamos por uma placa que aparece em muitos filmes e revistas de surf, que marca o início de Haleiwa, condado onde estão grande parte das ondas. Aquilo me fez acreditar um pouco mais que estava aqui. Mas adiante, avistei a grande torre que fica na frente da baía de Waimea, outro símbolo clássico do Hawaii. Fomos até o endereço do Júlio, dono da casa onde eu ia hospedar-me, e um dos caras mais calmos com quem já falei no telefone, que fica em Waimea, e assim que estacionamos o carro, o Bruno, outro amigo de longa data, estava saindo pela porta da frente. Ele pareceu bem feliz ao me ver:
- Pô, achei que você não vinha mais hoje. Estávamos aí nos questionando se o Luquinhas chegaria.
Eu tinha combinado com seu irmão, Cauê, de dividirmos o quarto na casa do Júlio. Os brothers Dalfovos, estão morando na Califórnia, e eu vinha mantendo contado com ele via e-mail, msn e skype, apesar de ter caído na sua caixa de mensagens todas as vezes que liguei. Estas tecnologias de hoje, facilitam muito nossas vidas e podemos manter contato com amigos e parentes em qualquer lugar do mundo, basta querer. Bom, a combinação havia dado certo, o Cau estava me esperando e logo me instalei no quartinho. É um beliche, com uma cama no chão, onde o Júlio ia dormir nesta noite, não conseguimos descobrir porque:
- Amanhã vou dormir lá na minha mulher – Disse-nos o dono da casa.
Ainda nesta noite, depois de largar minhas malas, fomos até a casa do Finha ver as tais das pranchas. No caminho ele foi dizendo-me onde estava cada onda, mas entre a avenida e a praia, tem um monte de casa, o que lembrou-me muito a praia da Maresias, então quando ele disse:
- E aqui fica Pipeline...
Perguntei se poderíamos estacionar para eu ver a praia. Havia muita alegria em mim por conhecer este local tão especial. Paramos o carro e caminhamos até a areia. Na real, não deu pra ver nada, mas fiquei feliz de qualquer forma.
Depois de vermos as pranchas, que o Finha apresentou cheio de vontade, o Cauê não pareceu interessado em nenhuma, voltamos para casa. Depois do merecido e demorado banho, ainda fiquei trocando uma idéia com o Júlio antes de dormir. No total foram 30 horas de viagem, desde o momento em que deixei Porto Alegre, sendo que destas dormi cerca de 6, e mais 5 horas acordado depois da chegada. Estava bastante cansado. Acho que só os ásanas que fiz dentro do avião para manter minha coluna sem dores até aquela hora, e só a empolgação da viagem para me manter de pé. Mesmo tendo deitado em cima do beliche e ter feito a triste constatação que o colchão era macio feito um travesseiro, dormi logo em seguida.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
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Um comentário:
ao ler tudo isso,parece que viajei junto com você. fiquei muito emocionada em alguns trechos ao sentir como é incrível a sensação de realizarmos um sonho. a felicidade transbordando enquanto dizia yes bem baixinho...ah, foi lindo. é de manhã, vem o sol...aí é madrugada. beijos e boa noite no meu bom dia.
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