- Deve ser uma cena bizarra quando as pessoas olham estes dois gorilas em cima da mesma bike!
Paralela a Kamehameha highway, nome da avenida que fica entre nossa casa e o mar, existe a bike lane, uma estradinha asfaltada onde só passam bicicletas, e ao longo do qual, várias àrvores e flores ficam sobre nossas cabeças. Foi uma sensação de ansiedade com alegria, aguardar pelo momento em que chegaríamos até o campeonato. Um pouco antes de chegarmos, o Júlio se distancio e não o víamos mais. Assim que chegamos na praia pude contemplar a onda que sempre admirei.

As condições não eram as ideais, mas estávamos feliz por qualquer coisa. Como já disse várias vezes, e ainda dirá outras tantas, o Cauê:
- Estamos no Hawaii, cara!

Gerry Lopez foi um dos surfistas mais importantes do surf, ele não somente tornou Pipeline a onda mais conhecida do mundo, como fez com que a arte de surfar um tubo fosse ganhasse um valor inestimável dentro do esporte. Este havaiano de Honolulu, liderou a revolução das shortboards no início dos anos 70, quando ditou a forma mais bonita e extrema de surfar tubos em Pipeline. Não é à toa que até hoje é conhecido como o Mr. Pipeline e é um verdadeiro representante do estilo cool under pressure. Ele simplesmente fazia com que a onda mais difícil de ser surfada no mundo, parecesse algo muito fácil, como se apenas cruzasse por dentro de tubos onde cabiam caminhões. Parte desta forma sutil de surfar, também aparecia no seu estilo de viver fora da água, sempre tranqüilo e amigável. Também tornou-se praticante de Yôga, o que deve ter contribuído para aumentar sua consciência corporal e emocional nos momentos críticos. Ele venceu o Pipe Master em 72 e 73, fez algumas outras finais. Tornou-se uma figura tão importante, que durante alguns anos este mesmo campeonato levava seu nome, inclusive por que acontecia em frente à sua casa. Com o aumento da crowd, mudou-se para Maui, uma outra ilha havaiana, onde mora até hoje. Passou a viajar bastante para a Indonésia, em busca de novas ondas, sendo um dos primeiros a surfar em Uluwatu e G-Land.
Pois bem, ao chegar na beira da praia e ver que sua ex-casa fica exatamente na frente de uma das ondas mais incríveis e fotogênicas do planeta, questionei-me sobre o motivo que o levou a vender sua casa para uma gigante da surfwear, a Volcom. A resposta viria logo em seguida.
Ao longo quase toda costa norte de Oahu, onde algumas das melhores ondas do planeta, existem casas à beira-mar. Então, quando você vem pela rodovia ou pela bikes lane, e quer entrar na praia, tem que achar algum dos pequenos becos que o levam até a areia. Pois bem, na entrada de Pipeline, antes de chegar na praia, à sua direita, fica a ex-casa de Gerry Lopez, e à esquerda, a Volcom House. Esta primeira casa da marca, é habitada por vários havaianos, em sua maioria da ilha do Kauai, que se acham donos da onda. Acontece que o astral do caras é tão ruim, que tornou-se muito visível para mim, e para qualquer um que vem até aqui, porque Mr. Pipeline vendeu sua casa para a mesma marca, o que eles consideram uma grande conquista. Ele simplesmente não devia suportar a idéia de ter caras tão idiotas como vizinhos, e que ainda julgavam-se donos da onda que ele tanto ama.

Bom, continuamos sentados na areia, aguardando o início do evento. As baterias começaram, mas a condição não era a ideal, mesmo assim, vimos bons tubos serem surfados pelos competidores. Saímos dali e fomos para a beira da praia, sentir a onda ainda mais de perto. Uma coisa muito interessante de Pipeline, é que ela quebra muito próxima da areia, isto faz com que você se sinta dentro do tubo, com os surfistas.
Num determinado momento avistei meu amigo e fotógrafo profissional, Tony Fleury, caminhando na areia. Fui lá falar com ele e ficamos trocando uma idéias sobre o novo formato da competição, que mudou justamente neste última etapa do circuito mundial, sobre a condição do mar, que não era das melhores. Depois de algum tempo a fome acabou nos tirando da praia e voltamos para casa, abandonado o campeonato que não estava nos empolgando.

Estava muito feliz com a primeira sessão de surf no Hawaii. Já fiquei imaginando os tubos, as manobras, sempre utilizando a mentalização que o SwáSthya me ensinou nestes anos todos de prática. Lá da casa do Finha, dava para ver as séries quebrando, o mar parecia estar subindo. Descemos super empolgados até a praia e chegando lá pudemos apreciar bonitas ondas quebrando e bons surfistas na água. Eu já sai correndo pela praia, querendo achar o lugar certo para entrar no mar.
Rocky point é constituída de uma grande laje de coral, sobre a qual quebra a ondulação, produzindo boas e fortes ondas para os dois lados, com tubos e manobras rápidas. Havia 3 a 4 pés de onda, o que é pequeno para os parâmetros havaianos.
Acabamos entrando por uma praia que tem ao lado, para não precisar caminhar pelas pedras. Por ali se pega a onda chamada Rocky left, por ser um esquerda. Na água havia pouca gente, talvez porque todo mundo fica acompanhando o campeonato, e ficamos dando risada sozinhos enquanto esperávamos pelas ondas.
- Caramba, meu, estamos só nós em Rocky Point – Disse aos meus amigos.
Minha primeira onda no Hawaii foi uma esquerda que se formou, e eu estava um pouco atrás do pico dela, então entrei e fui direto para dentro do tubo, infelizmente ela fechou, mas isso acontece mesmo.
Pouco depois, remei mais para as ondas de direita, e encontrei alguns surfistas brasileiros da nova geração. Fiquei pegando onda com eles, porque é sempre bom estar ao lado de quem surfa melhor, para aprender um pouco mais.
Num determinado momento, enquanto eu voltava para o outside, entrou uma onda menor, que alguns surfistas remaram, mas não conseguiram entrar. Como eu estava mais para baixo, apenas virei o bico para a areia e dei algumas braçadas. Eu vi que ira rolar um tubo, então segurei ao máximo a entrada na onda, assim que fiquei em pé, a crista da onda passou por cima de mim, ajustei meu corpo para não tocar em nada, quando eu estava saindo um nova parte da onda quebrou por cima de mim, e eu permaneci intocável dentro daquele pequeno casulo azul, até sair, sorrindo, com velocidade, lá na frente. Comemorei um pouquinho e pulei por cima da onda.
Continuei surfando ao lado dos brasileiros, e pude ver bons tubos surfados por eles. É impressionante como mesmo as ondas pequenas do hawaii proporcionam momentos lindos para quem gosta do surf. Tubos enormes, aéreos altos, manobras fortes, isso que não vi nenhum dos top 44 do mundo ali. Num determinado momento, eu estava voltando para o outside, e uma série de ondas quebrou na minha frente. Enquanto passava por baixo delas, bati com minha quilha no coral e acabei perdendo-a. Só vi isso quando cheguei lá fora, avisei o Cauê e peguei uma onda reto para sair.
Saindo de Rocky Point fomos até a casa do Finha pegar nossas roupas secas e de lá fomos tomar açaí, em uma lojinha onde atendem uns franceses. Pobres franceses, americanos, havaianos e todos os outros que comem aquilo achando que é açaí. Foi nos servido uma pasta rosa, com gosto de morango e nenhuma semelhança com o melhor açaí de Porto Alegre, o do Dinar e do Eder. Deu saudades da Cantina, lembrei dos chapatis, do PF. Ah, como é boa aquela comidinha.
Voltamos para Pipeline, com a esperança de assistir o final do dia de competição, mas as baterias do dia já tinham se encerrado. Fiquei sentando na praia um pouco. Notei que o mar havia crescido desde a manhã, mas estava meio torto, balançado. Não era aquela imagem de perfeição que assistia nos filmes. Por isso, não me deu muita vontade de surfar, alem disso estava sem um quilha e havia me desencontrado do Cauê. Não teria nem prancha, mesmo que quisesse surfar.
Caminhando em direção à Off the Wall, uma onda ao que quebra ao lado de Pipeline/Backdoor, avistei o Cauê que estava olhando as ondas também. Sentando ali, comçamos a ver alguns tubos sendo surfados, apesar do mar estar pesado e as ondas fechando bastante. Perguntei ao Cauê:
- Daí Cau, você vai surfar?
- Bah, Luquinhas, acho que não.
- Pô, então me empresta tua prancha para eu cair.
- Claro.
Peguei a prancha dele, cheio de ansiedade, e fui para dentro do mar. Logo que entrei na água, meus pés sentiram o coral duro, sob os quais caminhei com cuidado. Havia um surfista com cara de havaiano entrando na mesma hora, então fui atrás dele. A entrada no mar foi tranqüila e havia poucas pessoas lá fora. Fiquei olhando as ondas quebrarem, o posicionamento de todos dentro da água, então entrou uma esquerda para mim, desci agarrado na borda da prancha e tentando desacelerar ao máximo meu drop, na tentativa de um tubo. Não deu pra segurar, e a onda não era tão tubular, mas já valeu para pegar confiança e sentir o power do lugar. Na verdade, Off the Wall é conhecida por seu uma onda que quebra para direita, com tubos enormes e poderosos. Achei estranho o fato de algumas ondas estarem quebrando para o lado oposto, depois fui saber que era porque a direção do swell não era ideal. Na realidade, o Finha me disse, vendo as imagens que o Cau fez, que nem era para ter entrado naquele mar. Acabei entrando mais pela empolgação do momento. De qualquer forma, voltei lá pra fora e, depois de algum tempo, peguei outra esquerda, cujo lip quase bateu em mim. Em seguida, uma série enorme despontou no horizonte e todo mundo remou para fora, eu era o único surfista que estava mais para a esquerda no line up, a primeira onda passou vazia e acho que na segunda ou terceira, eu remei com confiança, achado que seria mais uma esquerda, logo que senti que estava dentro da onda, pude ver que ela fecharia inteira. Porém, no Hawaii, depois que você rema, é melhor ir do que tentar puxar o bico, como dizem, porque se você volta atrás a onda te carrega e o caldo é bem pior. Ao menos quando se tentar ir, dá pra completar o drop ou pular lá de cima. Eu, mesmo sabendo que estava entrando em uma fechadeira, continuei remando e fiquei em pé, acontece que sempre acabo imbicando quando vou reto em ondas cavadas, isso porque você precisa pisar bem na rabeta, para levantar o bico. Naquela hora não deu pra fazer nada disso, e tomei um wipe out forte, sendo bem chacoalhado dentro da água. Assim que submergi, pude ver outra onda quebrando me na minha frente, só deu tempo de pegar ar e descer, mais outro sacode lá em baixo. A terceira onda não veio tão forte, mas me segurou um bom tempo debaixo da água, os pránáyámas são muito úteis nesta hora. Na verdade fiquei bem tranqüilo o tempo todo, especialmente porque a praia fica bem próxima, e eu já estava quase na areia. Quando olhei pra beira, vi que só metade de minha prancha estava ali, a outra metade já devia estar lá na praia. Peguei uma espuma e fui rindo de mim mesmo enquanto o oceano me carregava para fora dele.
Caminhei até o Cauê, que dava risada de mim, enquanto registrava tudo na filmadora (depois acabamos gravando algo em cima disso, sem querer). Lamentei principalmente porque a prancha não era minha, nem do Cauê, ele havia pega emprestado do Júlio, porque veio pra cá sem prancha.
Então o saldo final do dia foi: duas sessões de surf, a primeira perdi uma quilha, na segunda, quebrei uma prancha. Rsrsrsrs
Estava bem cansado ao chegar em casa, o Cauê desmaiou no quarto e eu tive que resistir bravamente ao sono, até às 22:00, o que corresponde às 6:00 no Brasil, pois queria ligar para a Nai. Sabia que ela acordaria neste horário para dar aula para minha turma das 7:00h. Eram 22:45 aqui quando dormi na frente do computador, daí abri uns vídeos de surf para tentar manter-me acordado.
Às 5:55 o telefone de Naiana tocou. Ela atendeu com voz de sono, sem entender muito bem quem estaria ligando àquela hora. Assim que notou quem ligava, ficou bem feliz, e venceu a preguiça imediatamente, dizendo-me:
- Não acredito que estou falando contigo!
Aquilo me deu um conforto no coração. A saudade é um rio de lava, que nos queima por dentro, pensei. Conversamos um pouco sobre a vontade de estarmos juntos, dos acontecimentos daquele dia e da viagem, e foi engraçado falar com alguém que vivia com uma noite de antecipação com relação a mim. Lá no Brasil, ela inicia o dia que eu viveria amanhã, depois de meu descanso noturno.
Depois da conversa via skype, deitei-me e adormeci sorrindo, apesar do prejuízo I was living the hawaiian dream.
3 comentários:
Animal , me deu muita vontade de estar compartilhando isto c vc. estou aqui virtualmente junto Abs e boas ondas
quase sono, quase sonho. boa noite meu amor. suas histórias são rios que me levam com você. beijos.
caraca!!!
esse tal de hawaiian dream é do caraaaalho...
aaaaahhhhhhhh
aaloha my friend!!!
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