O mar baixou bastante com relação ao dia anterior, mas mesmo assim, ainda havia boas ondas. É incrível como a onda de Rocky Point é constante, pode-se surfar todos os dias ali, com ondas bem melhores que o Brasil. Mais uma vez haviam fotógrafos na água e o Jadson estava voando muito, sempre completando seus aéreos. Eu continuava colocando dentro dos tubos em todas as ondas que pegava. Infelizmente, numa delas, a onda me virou, fazendo-me ficar de cabeça para baixo, a espuma fez uma pressão sob o fundo da prancha, trincando-a ao meio. Era a segunda prancha que eu quebrava em desde que cheguei aqui. Não foi tão grave quanto a primeira, por isso, continuei na água, queria pegar mais umas ondas pois não fazia muito tempo que tiha entrado no mar. Acabei saindo para preservar a prancha e fiquei na areia conversando com Paulo Barcelos, um bodyboarder que já foi campeão mundial, e surfa muito em Pipeline. Até ele se impressionava com as manobras do menino prodígio de nossa casa. Fazia um dia muito bonito, com pouco vento e um sol forte. Água do mar estava clara e foi o primeiro dia que curti a beira de praia. Acho que este hábito quem me ensinou foi a Naiana, antigamente, eu surfava e ia embora da praia. Aqui, não ficamos mais na praia porque tem chovido muito, e queremos aproveitar ao máximo quando as condições estão ideais.
Em casa demoramos para começar a preparar a comida, e acabamos comendo pouco, para termos condições de surfar à tarde. O Cau tinha que ir trabalhar, e resolveu dar uma descansada enquanto esperava pelo Bruno, que combinou com ele de passar ali para pegá-lo, já que trabalha em um outro restaurante, próximo ao do Cau.
Deixei minha prancha em casa, para secá-la e fui com minha 5’8”, que ia usar só no Brasil, mas a condição me obrigou a estréia-la em águas havaianas. Mostrei para o Júlio a prancha quebrada e ele disse que não seria muito difícil de consertá-la .
O mar havia baixado um pouco mais, e chegamos um pouco tarde na praia. O surf com a prancha nova é bem diferente das outras que usei aqui. Ela é mais maleável e solta, por isso, é preciso fazer as curvas com mais cuidado e menos pressão. Foi um surf legal, mas não peguei muita onda, estava tomando cuidado com a minha aquisição. Mesmo assim, deu para notar que ela anda muito bem, e as manobras saem de uma maneira mais redonda, com grande arcos.
Ainda dentro da água vi que o Jadson tinha saído, sinalizei com os braços pois queria saber se havia acontecido alguma coisa, mas ele não me vi. Peguei mais umas ondas e fui para a beira, quase com o final da tarde. Ele me disse que tinha caído sua quilha, depois que ela bateu na sua cabeça. Ele já havia perdido um quilha de manhã, quando a prancha acertou suas costas, o menino é super radical.
No caminho para casa, prometi a ele que iríamos nos arrumar bem rápido e ir para a town, comprar seu ipod e a máquina digital. Na volta, pensamos em passar em Haleiwa e buscarmos o pimpolho. Chegamos em casa e nos arrumamos o mais rápido possível, mas quando o Jadson saiu do banho, apareceu o Cauê em casa:
- Cara, me atrasei para sair de casa, cheguei lá depois das 17:30h e eles colocaram alguém no meu lugar. Pô, mas o Bruno nem passou aqui para me pegar.
Depois o Júlio me disse que ele havia dormido demais, e acordou depois das 17h. Eu fiquei chateado por ele, porque o dono do restaurante tinha gostado bastante do Cau em seu primeiro dia de trabalho.
Ele disse que queria ir conosco para o centro, só que demorou um tempão para se arrumar, fez a barba, escovou os dentes, deixando eu e o Jadson loucos, enquanto esperávamos.
Tínhamos pensando em comer uma pizza em Haleiwa antes de irmos para Waikiki, onde tem a loja da Apple. Porém, o Jadson estava tão ansioso por chegar logo, que resolvemos ir direto. Ele chegou a sonhar que voltava para o Brasil sem os seus eletrônicos, e todas hora dizia:
- Moleque, sonhei que entrava no avião e não tinha comprado meu ipod. Aquilo me deixou muito preocupado. Será que a loja vai estar aberta? Até que horas fica aberta?
- Cara, o Júlião me disse que era até às 21h. - Já eram quase 20h quando saímos de casa.
Chegamos lá quando faltavam trinta minutos para as lojas fecharem, segundo as informações que tínhamos. Só que quando entramos no shopping, tudo estava vazio, havia somente algumas pessoas perambulando pelos corredores, olhando vitrines fechadas. Corremos até a loja da Apple, lá estavam dois funcionários, mas a loja já estava fechada, e, ao que parecia, há poucos minutos. Ficamos sem saber se o shopping tinha funcinado naquele dia ou não. O Jadson ficou um pouco chateado:
- Ah, não tem problema, foi bom o passeio até aqui. Mas a culpa foi de Cauê, que ficou duas horas no banheiro.
Estávamos famintos, e desde que cheguei aqui, quero comer na Pizza Hut. Então, começou a aventura para achar uma loja aberta. Sai dirigindo, meio sem rumo, guiado pela intuição, pela cidade. Passei por um centro comercial, com várias lojas de restaurantes e fas-foods, mas nenhuma Pizza Hut. Quando estava estacionando o carro, já conformado de que no ia comer o tal da pizza, olhei para o lado e vi um restaurante de mexicano de tacos, mas junto deste logo, estava o que procurávamos. Todo mundo começou a gritar de alegria dentro do carro e saímos correndo em direção à loja. Chegando lá ficamos sabendo que eles só tinham uma pizza individual, minúscula. Pedimos informações para o atendente, mas o cara estava muito mau-humorado. Dizia o nome da rua onde tinha uma loja só da Pizza Hut, mas não conseguíamos entender o nome da rua porque o inglês dele era pior que o nosso. Então ele disse:
- If you dont` understand english, I cant` help you.
Então uma outra atendente disse-nos:
- Britania street.
Saímos em busca da tal Britania street, que, segundo ele, era umas 3 quadras adiante. Obviamente, não achamos a rua, paramos num posto de gasolina, pedimos informação, sem muito sucesso. Pelo que nos disseram tínhamos que voltar por onde viemos, e entrar numa das ruas, não sabíamos bem qual delas. Então, enquanto dirigia, falei para o guris:
- Ah, meu, vou entrar nesta aqui mesmo.
Quando olhamos para a placa com o nome da rua, estava lá: Beretania Street.
Que Britania, que nada, o nome era Beretania, e mesmo com a má vontade e péssima pronúncia dos nossos amigos, tínhamos encontrado a tal da rua. E lá comemos, tranqüilos e famintos, nossa pizza ultra-gigante.
Na volta para casa, o menino Jadson começou a contar as histórias dos campeonatos que participou. Falava sobre as ondas que surfou, as manobras que fez, as notas, os adversários, os amigos. Contou-nos que quase apanhou em um campeonato na Califórnia, só porque estava ganhando de todo mundo, mas ficou em segundo lugar, roubado, segundo ele.
Acontece que ele se empolgava muito contando as história, colocando muita realidade em tudo que contava-nos. Eu e o Cau ficamos quietos ouvindo tudo com muita atenção. Até que num determinado momento, disse para eles:
- Cara, não sei muito bem onde eu estou. Não lembro deste caminho aqui.
Instantaneamente meu co-piloto pegou o mapa que compramos e descobriu que ao invés de irmos para o North Shore, estávamos indo em direção ao West Shore. Isso porque eu tinha esquecido de pegar uma rodovia que ia para o lado norte.
Como estávamos quase no extremo oeste da ilha, imaginei que a estrada, depois de passar pelo oeste, nos levaria para o norte. Resolvi continuar pela mesma estrada, só que num determinado ponto, acabaram as casas, não se via mais luz nenhuma, senão a do carro. Em seguida, apareceram placas com os dizeres “Falling Rocks” e, consequentemente, algumas pedras surgiram na estrada, solicitando meus reflexos para não estourar o pneu do carro. O Jadson ficou bem preocupado, chovia muito nesta hora, e parecia coisa de filme de terror, porque logo depois acabou a estrada também. Um pouco antes o Cau tinha dito:
- Eu estou olhando bem este mapa, e acho que a estrada não continua até o norte, não. Acho que ela acaba.
E realmente acabou. Sorte que um pouco antes de acabar, tinha uma base do exército americano, fomos até lá pedir informações. Só que o militar que falou conosco, sabia menos do que nós, ele não sabia nem da existência de Haleiwa. E ninguém em sua base sabia nos dizer como chegar lá.
Resumindo, tivemos que voltar quase todo o caminho, guiados pelo nosso mapa, e o caminho que geralmente leva uns 40 minutos, durou 2 horas. O Jadson dormiu no caminho e fomos conversando para vencer o sono.
Um comentário:
Sobre ondas não comento mas escrevo que te desejo dias ainda mais felizes em 2008. Dias marcados por amizades verdadeiras e paixões intensas.
Amor e sorrisos, Ana.
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