Cheguei em casa apressado, o Renan estava indo à pé para a praia. Entrei em casa peguei minha prancha, o Jadson estava acordado, convidei-o para ir:
- Mas e o campeonato?
- Ah, vai começar daqui a pouco. Acho que dá pra pegar umas ondas ainda.

Estacionei o carro, o Jadson pegou sua prancha e saiu correndo, os meninos foram para praia, e enquanto eu ainda me trocava o Jadson voltou:
- Acabaram de chamar o início das baterias, moleque.
- Putz, não acredito!
Coloquei de volta o calção seco e fui para beira da praia assistir o espetáculo que iria, mais uma vez, se acontecer, mais uma vez, à nossa frente. A onda, os tubos, o sol, o vento. Tudo estava perfeito naquela sexta-feira, cujo dia eu nem lembrava qual era.
Tanto eu, quanto os meninos, assistimos com olhos impressionados os surfistas desafiarem aquela água toda que se movia sobre o banco de coral. A maior parte deles eram havaianos, e eles sabem surfar muito bem suas ondas. Muitos tubos, muitos gritos, muitos aplausos fizeram parte daquela manhã, que passou sem que percebêssemos.

Ficamos por ali até bem próxima ao horário do meio-dia, quando comecei a chamar o pessoal para irmos surfar em algum outro lugar. Como as ondas estavam grande, não haviam muitas opções, teríamos que procurar algum lugar onde a ondulação se encaixasse sem ficar grande demais. Muitas vezes, quando o mar sobe muito, as ondas ficam fora de controle, e é preciso ficar na areia.
O Guigui estava com pé machucado de uma lesão que ele fez quando ainda estava no Brasil, e preferiu ficar na praia assitindo, o Thiago o acompanhou e voltei para casa com o resto da turma para irmos atrás das ondas.
Depois de percorrer vários picos, acabamos indo para Haleiwa, uma praia muito simpática, onde tem um beach park, com estacionamento, banheiro, duchas e um gramado. A praia em si, é uma pequena baia, à esquerda tem um molhe, com um canal ao lado, pois ali funciona um porto. Acho que a presença deste canal gera uma corrente constante para o leste, lado do canal, o que ajuda bastante na formação da onda, que quebra sempre no sentido contrario ao da corrente, para a direita.
Olhei o mar, não parecia estar muito grande, mas tinha uma formação perfeita, e o vento não estava atrapalhando. Resolvi cair só de calção, dispensando minha camiseta de neoprene, que protege-me de uma eventual queda nos corais.
Quando entrei na água vi que a onda quebra sobre uma bancada bem rasa, especial mente perto do canal. Enquanto remava, vi o Fábio Gouveia surfando, com todo seu estilo e refinamento, uma onda perfeita. Ele fez várias manobras, desde o outside até o inside, onde passou por mim ainda manobrando. Quando passei por cimadesta onda, a que vinha atrás estava sozinha, quebrando tubular, fiquei olhando-a e surpreendi-me quando um surfista saiu de dentro do tubo, ainda foi até a base da onda e tentou diminuir a velocidade para pegar outro tubo antes de a onda acabar. Admirei aquela cena com um sorriso no rosto.
Assim como todas as outras ondas havaianas, Haleiwa também tem seus truques, a correnteza retira, constantemente, os surfistas do lugar certo onde a onda quebra. É preciso remar o tempo todo, mas não muito, para se manter no lugar certo. Haviam vários surfistas na água e estava difícil pegar uma onda. Resolvi remar um pouco mais para baixo do lugar onde quebravam as maiores ondas, afim de pegar uma onda intermediária. Assim que posicionei-me, entrou uma direita perfeita, remei bem forte e fui ficando para trás dela, mas antes de perdê-la, coloquei mais força nos braços e entre atrasado nela. Assim que fiquei em pé, segurei um pouco a prancha no alto da onda, e vi a crista da onda quebrar sobre mim. Lá de dentro do tubo, pude ver um outro surfista que remava na onda me olhando, antes de sair, outra parte da onda quebrou tubular, deixando-me um bom tempo no tubo. Ainda dei uma rasgada, e depois daquela onda nem precisava surfar mais, um tubo seco é tudo que um surfista pode querer.
Remei lá para fora, e depois de um tempo o Renan aproximou-me de mim dizendo:
- Cara, peguei uma onda e rodou um tubão, mas eu não tive a manha para poder surfá-lo. Se eu soubesse teria sido irado.
Contei para ele do tubo que tinha acabado de surfar. Ficamos ali remando, tentando novamente posicionar-mos no lugar certo. Logo em seguida, depois de, mais uma vez, tentar surfar as ondas da série, remei para baixo do pico, entrou uma onda menor, mas mais seca, por quebrar mais em cima da bancada.
Desci até a base dela, ela formou um bowl na minha frente, projetei a prancha para frente com força, pensando em manobrar, mas antes disso percebi que ali tinha um tubo, e lembrei-me da frase do Renan. Então, virei o bico para frente, ao invés de para o alto, caso fosse manobrar, a onda rodou por cima de mim, mas lá na frente. Achei que não fosse sair, mas continuei dirigindo dentro do tubo, e quando percebi o sol brilhava sobre mim, eu tinha saído seco, mas um vez. Podia ter ido direto para a areia, mas fiquei ali mais um tempo, vendo meu primo surfar, conversando com ele e com o resto da turma.
Quando fomos embora já passava das 15h, passamos em casa para comer alguma coisa, mas como o Guigui e o Thiago não tinham voltado, resolvemos ir até Pipeline ver o campeonato e buscá-los. Assim que chegamos na praia, vi o mar tomado de gente. A competição tinha se encerrado por aquele dia, aqui em Oahu há uma lei que determina que as competições devem acabar às 16h, e a quantidade de surfistas dentro da água era ridícula. Eu nunca havia visto tanta gente junta dentro da água. Mesmo assim, decidi surfar o final da tarde. Convidei os meninos, apenas o Guigui se habilitou. Viemos correndo para casa, o Jadson, que tinha ficado por aqui, resolveu ir junto. Quando conseguimos chegar na beira da praia com pranchas, leashs e tudo mais, o sol já estava quase se pondo. Corri para dentro do mar, sem nem pensar na quantidade de surfistas que disputavam cada onda. A crowd estava inacreditável, para remar tinha que tomar cuidado para não bater em ninguém.
Peguei duas ondas para Backdoor, no susto. As duas ondas entraram, e enquanto todo mundo remava, vi que ninguém estava indo para a direita, virei o bico para a areia no último momento, desci ambas ondas um pouco atrasado. Nenhuma delas teve tubo, e saí logo em seguida. Remando forte para fora, porque ser pego embaixo do pico de Backdoor é a pior coisa que pode acontecer, é muito raso ali.
Surfei uma esquerda pequena, com um tubo, para sair do mar. Assim que cheguei na areia, vi que um grupo de pessoas se aglomeravam na frente de backdoor. Eu já imaginava que alguma coisa séria tinha acontecido, alguns salva-vidas corriam para lá, e um tempo depois surgiram bombeiros e paramédicos. Ouvi uma menina comentando que tinha sido um bodyboard que tinha pegado uma esquerda em Off The Wall, e a onda havia explodido sobre a bancada rasa, com ele dentro. Foi o acidente mais feio que aconteceu aqui até agora. O Jadson foi lá e voltou dizendo que ele havia cortado a cabeça de um lado ao outro, mas que estava vivo.
Quando comprei meu capacete para surfar em Pipeline/Backdoor, todos ficaram achando desnecessário, mas fui obrigado a chamar a atenção de todos naquela hora de que segurança nunca é demais. Saí mos da praia chocados com tudo aquilo.
Em casa fiz um risoto de tomates secos, aprovado por todos, inclusive quase faltou comida. Os meninos continuavam no fuso brasileiro, e dormiram logo em seguida.
2 comentários:
Grande Lucas,
Lendo seu blog consegui resgatar aquela enscência do surf que realmente nos leva a estas aventuras.
Desejo uma ótima trip repleta de coisas boas e muito aprendizado.
Aloha do Pedida!
lucas, tá meio atrasado isso aqui não? vamos parar de descer morra e escrever um pouco. hehehe!
beijos com saudades, pequena.
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