segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

10/1 - A maior onda da vida

Acordei, e o Julião já estava na sala tomando seu café. Ele já tinha ido ver o mar, mas falou que não teria como surfar, porque tinha um compromisso. Se fosse para cair, teria que ter ido bem cedo, e já eram quase 8 horas.
Comi alguma coisa, chamei o Cau e fomos ver o mar. As ondas estavam bem grandes, talvez com algumas séries chegando à 18 pés. Havia sol e o vento soprava na direção certa. Ficamos ali apreciando o espetáculo, vendo os surfista descerem aquelas pequenas montanhas de água. Logo em seguida, chegou o Bruno e a Sabrina. Haviam muitos fotógrafos na praia, curiosos, surfistas passando com suas pranchas gigantes.
Foi me dando um frio na barriga, uma adrenalina correu o corpo enquanto olhava tudo aquilo. Eu sabia que queria surfar aquelas ondas, mas não tinha o equipamento necessário. Ficava o tempo todo falando para o Cau que se tivesse um leash grande, aquela cordinha que fica presa no surfista e na prancha, eu entraria no mar. Isto porque o Júlio já tinha me dito que me emprestaria uma prancha para eu surfar, mas meu maior leash era de 10 pés, pequeno para aquela condição.
Voltei para casa e disse ao Júlio que queria cair:
- Cara, está um dia bm pra entrar, Lucas.
- Mas eu não tenho leash, Julião.
- O ideal é você não precisar do leash, mas eu acho que tenho um aqui no carro.
Pegamos o leash, que pareceu-me ser do tamanho do meu:
- Ó, pode pegar minha prancha, mas se quebrar são U$300, viu?!
- Ok. Pode deixar que não vai acontecer nada.
- Entra lá, vai devagar e desce umas ondas. A condição está muito boa.
Voltei para a praia de Waimea. O Bruno e o Cau agora estavam mais próximos da areia. É que bem ao lado do canto leste da praia, onde os surfistas entram e saem do mar, passa um estrada. E a maior parte dos que ficam assisitindo ou registrando o surf, ficam na beira da estrada. Perguntei se as condições continuavam as mesmas:
- Cara, acho que está um pouco mais demorado, mas tem mais gente na água. – Disse o Bruno.
Ficamos olhando a movimentação de entra e sai de dentro do mar. Muita gente já estava na beira da praia, muita gente chegando, e a cada surfista que passava aumentava minha vontade de surfar. O Bruno comentou que a entrada ali é uma tarefa difícil, mas que sair do mar é ainda mais complicado. Há um corrente muito forte, que puxa os surfista para o lado oeste da praia, onde está o Shorebreak, uma onda muito forte, que quebra no raso, e é surfada por bodyboarders insanos.
Depois de um certo tempo, vimos o surfista gaúcho Vinícius Fornari sair do mar. Fui até a areia falar com ele:
- Daí, meu, como estão as ondas lá?
- Cara, estão perfeitas. Minha primeira onda foi muito boa, era grande.
- Eu quero muito entra aí, mas não tenho um leash grande, só consegui a prancha.
- Pega este aqui, depois você me devolve. Não é meu também, mas acho que não tem problema.
- Sério? Vou querer ,sim.
Assim que ele começou a me mostrar o leash, vi que não era muito grande e comentei com ele:
- Mas que tamanho tem esta cordinha?
- Ah, acho que é de 10, talvez 15 pés.
- Pô, está parecendo a minha. Eu tenho uma de 10 pés.
- Ah, ô Luquinhas, então o que você está esperando, meu? O mar está perfeito, não dá nada cair com este leash.
- É, né!?
- Claro, meu. Entra aí, você vai se amarrar.
Era o incentivo que eu precisava. Na verdade, estava querendo um parceiro para não entrar ali sozinho na minha primeira vez, mas pelo jeito teria que ser assim. Passei pelos guris e avisei que estava indo em casa buscar a prancha. Fiz tudo o mais rápido possível, não queria perder aquela vontade que estava em mim.
Comparei meu leash com o do Júlio, eram do mesmo tamanho. Levei o meu, por parecer ser um pouco mais novo. Voltei correndo para a praia, o Cau e o Bruno estava na areia, tiraram umas fotos. Coloquei a tão falada cordinha no tornozelo, olhei para dentro do mar e esperei a hora certa, quando não entra nenhuma onda, e corri para dentro do mar. Pulei na água e remei com força, mas logo uma onda quebrou a minha frente, soltei a prancha, passei por baixo dela. Puxei-a de volta pra mim e continuei remando lá para fora.
Até chegar ao point, leva-se algum tempo, e nestes poucos minutos minha emoção estava à flor da pele. Ficava pensando que eu estava remando para Waimea, a maior onda de Oahu. Fiquei mentalizando os drops que eu faria, as ondas que iria remar. Além disso, quando estava quase chegando lá fora, entrou uma série, e foi lindo ver os surfistas descerem aquela água toda, que se movimenta com uma velocidade impressionante depois que atinge a bancada profunda que fica quase na frente do costão.
Como sempre acontece comigo, tive sorte no início da session. Cheguei lá fora, vi alguma ondas quebrando, me posicionei um pouco pra dentro do pico, mas não demais. E assim que entrou um série maior, virei a prancha e comecei a remar, vi que a onda tinha força o suficiente para me levar de onde estava. Acontece quando a condição atinge este tamanho, você precisa começar a remar bem antes de a onda chegar, para que quando ela chegue até o surfista, ele tenha uma boa velocidade e consiga descê-la sem ficar pendurado na crista da onda, o que proporciona um caldo pesado. Assim que aquela massa de água chegou até mim, senti que ia dar para descer, mas ouvi um grito de alguém que estava entrando também nela. A onda de Waimea, pelo seu tamanho, e porque a única manobra é o drop, é o único lugar do North Shore onde é permitido descer mais de um surfista na onda. Eu, inclusive, achava que os surfistas nem gritavam pelas ondas ali. Na hora em que ouvi aquilo, não tinha como voltar atrás, se puxasse o bico, certamente seria sugado, então dei mais algumas remadas e fiquei em pé. Olhei para baixo, e era uma ladeira de água, desci reto, com velocidade e segurança, só quando cheguei na base, virei o bico para minha direta e fiz o bottom turn. Passei por uma certa quantidade de espuma e sai no canal. Celebrando, sorrindo e com vontade de gritar. Nossa, acabei de fazer uma onda em Waimea!
Fiquei intrigado com aquele grito, até preocupado, porque descer ondas de havaianos pode significar um problema enorme. Além disso, quando olhei para o rastro da onda que tinha acabado de surfar, vi que o surfista que tinha gritado estava no meio da água branca produzida pela espuma, e que nadava em direção à sua prancha, um pouco distante dele. Achei que seu leash tinha estourado. Vi que ele chegou na prancha antes da onda seguinte quebrar, e fiquei mais aliviado, enquanto remava para fora, sem olhar para trás.
Dias depois, fui saber que aquele é o único surfista que grita quando vai entrar numa onda, ele não gosta que outros surfistas desçam com ele. E, na verdade, seu leash não havia estourado, ele simplesmente surfa sem este acessório. Por sorte minha, ele nem falou nada quando voltou ao outside, ou não me reconheceu.
Depois disso, fiquei mais à vontade no mar. Alguns brasileiros que estavam lá fora, até elogiaram o tamanho da onda que eu acabara de pegar. Ainda peguei outra onda grande, antes de pegar a terceira, e menor, para sair do mar.
Porém, a coisa que mais me chamou a atenção neste dia, foi a presença de uma surfista no line up, dividindo um espaço que é dominado pelos homens. Na realidade, nem sei se antes dela outras mulheres surfavam ali. Seu nome é Maya Gabeira, e ela é uma brasileira big rider, a menina é muito destemida, e foi dela a maior onda que vi enquanto estive dentro d`água. Foi muito legal ver uma mulher chamando a atenção de todos por sua habilidade e coragem. Toda vez que ela pegava uma onda, ao remar para fora, era elogiada pelos demais surfistas. Eu, como grande admirador da força das mulheres, fiquei bastante impressionado e feliz por ela.
Na hora em que resolvi sair do mar, entrou uma série enorme, e com muitas ondas. Elas não chegaram a quebrar em cima de mim, pois estava no canal, mas é necessário remar para o canto leste da praia para se sair do mar, por causa do Shorebreak. Só que com ondas enormes vindo sem parar, não havia como remar para aquele canto. Inclusive enquanto remava para fora, vi dois surfistas remando para dentro do mar, como se estivessem entrando naquela hora, mas eu os havia visto lá fora, sabia que estavam querendo sair. Inclusive um deles era o tal local que gritou na minha primeira onda, o outro era um curitibano, que disse-me:
- Cara, olha a hora que fomos inventar de sair. Acho que vou remar de volta lá pra fora.
Deixei que ele passasse por mim e fui atrás do havaiano, mais velho e mais experiente. Quando a série passou, começamos a remar forte em direção ao canto da praia, achávamos que daria para pegar um espuma para sair do mar. Porém, a quantidade de água que estava ali era impressionante, parecia corrente de rio, e carregava-nos, aos poucos, para o canto contrário ao que queríamos ir. Eu remei muito forte, foi mais cansativo aquele momento que todo o tempo que estive dentro do mar, surfando e vendo aquelas ondas gigantes. O meu amigo já estava quase na beira, quando ouvi pelo alto-falante dos salva-vidas, que eles diziam alguma coisa sobre nós para um jet-sky, que estava no canal cuidando da segurança dos surfistas. Ele logo se aproximou de mim, mas já estávamos tão próximos da zona de impacto, ou ele achou que já estava tudo bem, que afastou-se rapidamente, pude vê-lo indo conversar com o curitibano, que à esta hora remava para fora.
Logo em seguida o havaiano tomou umas ondas na cabeça, mas saiu do mar. Vi que estava bem próximo da praia, e era minha chance de sair. Se continuasse lutando contra aquela correnteza, provavelmente seria arrastado até o quebra-côco. Virei o bico, antes voltado para o canto, em direção à areia e remei o mais forte que pude. Quando voltei a olhar para fora, uma onda formava-se sobre mim, só deu tempo de soltar a prancha e mergulhar. Ela me chacoalhou um pouco, e por sorte, não vieram outras atrás. Peguei a prancha, remei numa onda menor, não para entrar, mas para ser arrastado pela força dela. Depois apenas deixei que uma espuma me levasse até a beira e pronto, estava com os pés na areia. Foi uma sensação de alívio e alegria. Tudo tinha dado certo, e eu havia surfado as maiores ondas de minha vida.
Caminhei pela areia e encontrei os guris, o Bruno disse-me que o mar tinha crescido depois que entrei e que achava que tinha filmado uma onda minha. Ele ainda não me mostrou, mas tomara que tenha feito o registro.
Depois de tanta emoção, fui pra casa. O Júlio chegou em casa e disse-lhe que havia surfado, ele ficou feliz e estava com muita vontade de cair também, mas o princípio de um resfriado o estava atrapalhando. Enquanto preparava o almoço, o Jadson incentivou o Júlio a surfar, pois ele queria também pegar aquelas ondas. O Julião acabou cedendo e foi acompanhar o menino. Disse que iria levá-lo até o outside e surfar só uma onda. E foi bem isso que ele fez, logo em seguida, voltou para casa. O Bruno saiu para filmar a ação e eu falei com o pessoal que estava em Porto Alegre, preparando um jantar na casa da Naiana. É muito bom ter amigos, e nestas horas damos um valor especial à tudo isso. Deu uma saudades de casa, mas também um vontade enorme de aproveitar ao máximo isso que é bem diferente de minha vida cotidiana.
No resto do dia, apenas descansei e fui ver se tinha alguém surfando em Pipeline. Por mais extremas que estavam as condições, haviam alguns surfistas aventurando-se por lá. As ondas nem estavam muito boas, tinha muita corrente e poucos tubos.
No início da noite, fui buscar os meninos no aeroporto. O vôo atrasou e fui até uma loja da Starbucks, aqui existe uma em todos os lugares. Quando sentei num banco, fiz isso entre duas pessoas, eles não estavam juntos, mas comecei a conversar com a menina, e depois com o cara, que lia um livro sentado em dhyánásana. Não é que ambos praticavam Yôga? Ele é uma australiano que mora em Bali e treina equipes de surfistas dando aulas de Yôga, e ela é chef de um restaurante Vegan no Arizona. Conversamos bastante e passei o site da Uni-Yôga para ambos, disse-lhes que em breve todo material seria publicado em inglês. Ele ainda disse-me para aparecer em Bali para visitá-lo e dar algumas aulas.
Quando desci para o saguão de desembarque, os meninos estavam saindo do vôo. Na verdade, além do meu primo, só conhecia um deles, o Guigui. Os outros dois são o Renan e o Thiago. Tirando o Ícaro, os três são de Balneário Camboriu. Quando eu lhes disse que eles tinham chegado no maior dia desde que eu cheguei aqui, o Icaro perguntou:
- Tá, mas que tamanho tem o mar?
- 15, talvez 18 pés.
Todos se olharam, rolou um silêncio. Achei engraçada aquela cena, mas os tranqüilizei, pois o mar iria baixar para o dia seguinte.
A casa ficou cheia quando eles chegaram, 8 pessoas, todas as camas ocupadas. Achei que iria rolar uma movimentação, mas o moleques estavam tão cansados que chegaram e foram dormir, alguns até sem banho (rsrsrs). Ainda perguntei se queriam acordar bem cedo na manhã seguinte, mas eles preferiram acordar ao natural, depois de 30 horas de viagem, não é fácil estar disposto para o surf.

9 comentários:

bento cuervo moura disse...

querido,otimos textos!!!!!coisa boa!!!parecia que eu estava na baia vivendo todos esses momentos que nos motivam a viver!!!grande abraco Bento

Muriel disse...

Lucas! Que legal tudo isso. É impressionante como tu conseguiu expressar toda aquela emoção aqui nessas palavras. Consegui sentir na pela tua emoção. Que bom saber que estás bem feliz. Um super beijo no coração. Muri

Unknown disse...

Dale Lucas! Agora tá bonito de ler... Até então tinham mais roubadas que alegrias. Eu sabia que tu ainda ia te dar muito bem por aí. Era só uma questão de tempo. Pega uns tubos por nós (até por que estas ondas creio que nunca vou encarar). Um grande abraço e muita energia pra vcs todos! Zé verdi

Daniel De nArdi disse...

Muito bom irmão.
Parabéns.
Mas estamos esperando atualizações já é dia 17 aqui no Brasil. hhahahha
BJs

Anônimo disse...

Fala Lucasss!!!! li seu blog apenas hj. Fiquei impressionado na clareza de detalhes e sensações... cara pensei que estava ai na areia olhando tudo isso. Como deve estar D+ essa trip... pretendo um dia visitar tudo isso e ver com os meus olhos esse lugar irado...

abraços e boas aventuras.

Leandro.

Anônimo disse...

Lucas!
Ontem o leandro me apresentou o teu blog...
adorei taaanto 'viajar' contigo que li todos os posts!
desde que minha tia voltou do hawaii (eu tinha uns 8 anos) que eu desejo muito visitar esse paraíso! muito obrigada por me proporcionar um pouquinho desse sonho...
continue aproveitando as maravilhas que tens por aí!
sorte nas suas ondas...
um beijo
Chris

Anônimo disse...

Fala Luquinhas

Continue representando muito bem a gauchada por aí.

Aloha!

Um abração
Lucas Unidade Moinhos

Anônimo disse...

po cumpadi,queremos updates po!!!!!!!!!!!!!!!!abraco cuervo

Anônimo disse...

lucas, colo os olhos na tela. tenho vontade de atravessá-la para estar aí contigo. e viver tudo intensamente também. um abraço carinhoso, júlia - que morre de saudade de vc.