terça-feira, 22 de janeiro de 2008

11/1 - Tropa de Surfistas

No dia seguinte à chegada da Tropa de Surfistas, o mar deu uma baixada. O Icaro, meu primo, acordou cedo, talvez por estar ainda no fuso-horário do Brasil, chamou-me e fomos para a praia olhar o mar. Pipeline tinha altas ondas, convidei-o para surfar, mas ele estava de “ressaca” e preferiu ficar na praia. Como já era quase 8 horas, saí correndo da praia para buscar a prancha e tentar surfar antes do início do campeonato, que pelo jeito iria acontecer.
Cheguei em casa apressado, o Renan estava indo à pé para a praia. Entrei em casa peguei minha prancha, o Jadson estava acordado, convidei-o para ir:
- Mas e o campeonato?
- Ah, vai começar daqui a pouco. Acho que dá pra pegar umas ondas ainda.
Fomos o mais rápido que pudemos, no caminho ainda encontramos os outros integrantes da casa, Guigui, que parece uma pilha Duracell, e o Thiago, o mais quieto de todos. Todo mundo se apertou no carro, pessoas, pranchas, mochilas, capas e capacetes.
Estacionei o carro, o Jadson pegou sua prancha e saiu correndo, os meninos foram para praia, e enquanto eu ainda me trocava o Jadson voltou:
- Acabaram de chamar o início das baterias, moleque.
- Putz, não acredito!
Coloquei de volta o calção seco e fui para beira da praia assistir o espetáculo que iria, mais uma vez, se acontecer, mais uma vez, à nossa frente. A onda, os tubos, o sol, o vento. Tudo estava perfeito naquela sexta-feira, cujo dia eu nem lembrava qual era.
Tanto eu, quanto os meninos, assistimos com olhos impressionados os surfistas desafiarem aquela água toda que se movia sobre o banco de coral. A maior parte deles eram havaianos, e eles sabem surfar muito bem suas ondas. Muitos tubos, muitos gritos, muitos aplausos fizeram parte daquela manhã, que passou sem que percebêssemos.
Ficamos por ali até bem próxima ao horário do meio-dia, quando comecei a chamar o pessoal para irmos surfar em algum outro lugar. Como as ondas estavam grande, não haviam muitas opções, teríamos que procurar algum lugar onde a ondulação se encaixasse sem ficar grande demais. Muitas vezes, quando o mar sobe muito, as ondas ficam fora de controle, e é preciso ficar na areia.
O Guigui estava com pé machucado de uma lesão que ele fez quando ainda estava no Brasil, e preferiu ficar na praia assitindo, o Thiago o acompanhou e voltei para casa com o resto da turma para irmos atrás das ondas.
Depois de percorrer vários picos, acabamos indo para Haleiwa, uma praia muito simpática, onde tem um beach park, com estacionamento, banheiro, duchas e um gramado. A praia em si, é uma pequena baia, à esquerda tem um molhe, com um canal ao lado, pois ali funciona um porto. Acho que a presença deste canal gera uma corrente constante para o leste, lado do canal, o que ajuda bastante na formação da onda, que quebra sempre no sentido contrario ao da corrente, para a direita.
Olhei o mar, não parecia estar muito grande, mas tinha uma formação perfeita, e o vento não estava atrapalhando. Resolvi cair só de calção, dispensando minha camiseta de neoprene, que protege-me de uma eventual queda nos corais.
Quando entrei na água vi que a onda quebra sobre uma bancada bem rasa, especial mente perto do canal. Enquanto remava, vi o Fábio Gouveia surfando, com todo seu estilo e refinamento, uma onda perfeita. Ele fez várias manobras, desde o outside até o inside, onde passou por mim ainda manobrando. Quando passei por cimadesta onda, a que vinha atrás estava sozinha, quebrando tubular, fiquei olhando-a e surpreendi-me quando um surfista saiu de dentro do tubo, ainda foi até a base da onda e tentou diminuir a velocidade para pegar outro tubo antes de a onda acabar. Admirei aquela cena com um sorriso no rosto.
Assim como todas as outras ondas havaianas, Haleiwa também tem seus truques, a correnteza retira, constantemente, os surfistas do lugar certo onde a onda quebra. É preciso remar o tempo todo, mas não muito, para se manter no lugar certo. Haviam vários surfistas na água e estava difícil pegar uma onda. Resolvi remar um pouco mais para baixo do lugar onde quebravam as maiores ondas, afim de pegar uma onda intermediária. Assim que posicionei-me, entrou uma direita perfeita, remei bem forte e fui ficando para trás dela, mas antes de perdê-la, coloquei mais força nos braços e entre atrasado nela. Assim que fiquei em pé, segurei um pouco a prancha no alto da onda, e vi a crista da onda quebrar sobre mim. Lá de dentro do tubo, pude ver um outro surfista que remava na onda me olhando, antes de sair, outra parte da onda quebrou tubular, deixando-me um bom tempo no tubo. Ainda dei uma rasgada, e depois daquela onda nem precisava surfar mais, um tubo seco é tudo que um surfista pode querer.
Remei lá para fora, e depois de um tempo o Renan aproximou-me de mim dizendo:
- Cara, peguei uma onda e rodou um tubão, mas eu não tive a manha para poder surfá-lo. Se eu soubesse teria sido irado.
Contei para ele do tubo que tinha acabado de surfar. Ficamos ali remando, tentando novamente posicionar-mos no lugar certo. Logo em seguida, depois de, mais uma vez, tentar surfar as ondas da série, remei para baixo do pico, entrou uma onda menor, mas mais seca, por quebrar mais em cima da bancada.
Desci até a base dela, ela formou um bowl na minha frente, projetei a prancha para frente com força, pensando em manobrar, mas antes disso percebi que ali tinha um tubo, e lembrei-me da frase do Renan. Então, virei o bico para frente, ao invés de para o alto, caso fosse manobrar, a onda rodou por cima de mim, mas lá na frente. Achei que não fosse sair, mas continuei dirigindo dentro do tubo, e quando percebi o sol brilhava sobre mim, eu tinha saído seco, mas um vez. Podia ter ido direto para a areia, mas fiquei ali mais um tempo, vendo meu primo surfar, conversando com ele e com o resto da turma.
Quando fomos embora já passava das 15h, passamos em casa para comer alguma coisa, mas como o Guigui e o Thiago não tinham voltado, resolvemos ir até Pipeline ver o campeonato e buscá-los. Assim que chegamos na praia, vi o mar tomado de gente. A competição tinha se encerrado por aquele dia, aqui em Oahu há uma lei que determina que as competições devem acabar às 16h, e a quantidade de surfistas dentro da água era ridícula. Eu nunca havia visto tanta gente junta dentro da água. Mesmo assim, decidi surfar o final da tarde. Convidei os meninos, apenas o Guigui se habilitou. Viemos correndo para casa, o Jadson, que tinha ficado por aqui, resolveu ir junto. Quando conseguimos chegar na beira da praia com pranchas, leashs e tudo mais, o sol já estava quase se pondo. Corri para dentro do mar, sem nem pensar na quantidade de surfistas que disputavam cada onda. A crowd estava inacreditável, para remar tinha que tomar cuidado para não bater em ninguém.
Peguei duas ondas para Backdoor, no susto. As duas ondas entraram, e enquanto todo mundo remava, vi que ninguém estava indo para a direita, virei o bico para a areia no último momento, desci ambas ondas um pouco atrasado. Nenhuma delas teve tubo, e saí logo em seguida. Remando forte para fora, porque ser pego embaixo do pico de Backdoor é a pior coisa que pode acontecer, é muito raso ali.
Surfei uma esquerda pequena, com um tubo, para sair do mar. Assim que cheguei na areia, vi que um grupo de pessoas se aglomeravam na frente de backdoor. Eu já imaginava que alguma coisa séria tinha acontecido, alguns salva-vidas corriam para lá, e um tempo depois surgiram bombeiros e paramédicos. Ouvi uma menina comentando que tinha sido um bodyboard que tinha pegado uma esquerda em Off The Wall, e a onda havia explodido sobre a bancada rasa, com ele dentro. Foi o acidente mais feio que aconteceu aqui até agora. O Jadson foi lá e voltou dizendo que ele havia cortado a cabeça de um lado ao outro, mas que estava vivo.
Quando comprei meu capacete para surfar em Pipeline/Backdoor, todos ficaram achando desnecessário, mas fui obrigado a chamar a atenção de todos naquela hora de que segurança nunca é demais. Saí mos da praia chocados com tudo aquilo.
Em casa fiz um risoto de tomates secos, aprovado por todos, inclusive quase faltou comida. Os meninos continuavam no fuso brasileiro, e dormiram logo em seguida.

O atraso

Desde que os meninos chegaram a casa ficou cheia e não houve mais sossego por aqui. Hoje faz 10 dias desde que eles desembarcaram, e é a primeira vez que fico sozinho em casa. Aproveito o tempo para relatar um pouco das memórias dos dias passados.
O incrível é que eles chegaram com todas suas pranchas, malas e agitação, mas trouxeram consigo muitas ondas. Surfamos todos os dias, e o ditado sobre esta ilha se fez valer: o Hawaii tarda, mas não falha.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

10/1 - A maior onda da vida

Acordei, e o Julião já estava na sala tomando seu café. Ele já tinha ido ver o mar, mas falou que não teria como surfar, porque tinha um compromisso. Se fosse para cair, teria que ter ido bem cedo, e já eram quase 8 horas.
Comi alguma coisa, chamei o Cau e fomos ver o mar. As ondas estavam bem grandes, talvez com algumas séries chegando à 18 pés. Havia sol e o vento soprava na direção certa. Ficamos ali apreciando o espetáculo, vendo os surfista descerem aquelas pequenas montanhas de água. Logo em seguida, chegou o Bruno e a Sabrina. Haviam muitos fotógrafos na praia, curiosos, surfistas passando com suas pranchas gigantes.
Foi me dando um frio na barriga, uma adrenalina correu o corpo enquanto olhava tudo aquilo. Eu sabia que queria surfar aquelas ondas, mas não tinha o equipamento necessário. Ficava o tempo todo falando para o Cau que se tivesse um leash grande, aquela cordinha que fica presa no surfista e na prancha, eu entraria no mar. Isto porque o Júlio já tinha me dito que me emprestaria uma prancha para eu surfar, mas meu maior leash era de 10 pés, pequeno para aquela condição.
Voltei para casa e disse ao Júlio que queria cair:
- Cara, está um dia bm pra entrar, Lucas.
- Mas eu não tenho leash, Julião.
- O ideal é você não precisar do leash, mas eu acho que tenho um aqui no carro.
Pegamos o leash, que pareceu-me ser do tamanho do meu:
- Ó, pode pegar minha prancha, mas se quebrar são U$300, viu?!
- Ok. Pode deixar que não vai acontecer nada.
- Entra lá, vai devagar e desce umas ondas. A condição está muito boa.
Voltei para a praia de Waimea. O Bruno e o Cau agora estavam mais próximos da areia. É que bem ao lado do canto leste da praia, onde os surfistas entram e saem do mar, passa um estrada. E a maior parte dos que ficam assisitindo ou registrando o surf, ficam na beira da estrada. Perguntei se as condições continuavam as mesmas:
- Cara, acho que está um pouco mais demorado, mas tem mais gente na água. – Disse o Bruno.
Ficamos olhando a movimentação de entra e sai de dentro do mar. Muita gente já estava na beira da praia, muita gente chegando, e a cada surfista que passava aumentava minha vontade de surfar. O Bruno comentou que a entrada ali é uma tarefa difícil, mas que sair do mar é ainda mais complicado. Há um corrente muito forte, que puxa os surfista para o lado oeste da praia, onde está o Shorebreak, uma onda muito forte, que quebra no raso, e é surfada por bodyboarders insanos.
Depois de um certo tempo, vimos o surfista gaúcho Vinícius Fornari sair do mar. Fui até a areia falar com ele:
- Daí, meu, como estão as ondas lá?
- Cara, estão perfeitas. Minha primeira onda foi muito boa, era grande.
- Eu quero muito entra aí, mas não tenho um leash grande, só consegui a prancha.
- Pega este aqui, depois você me devolve. Não é meu também, mas acho que não tem problema.
- Sério? Vou querer ,sim.
Assim que ele começou a me mostrar o leash, vi que não era muito grande e comentei com ele:
- Mas que tamanho tem esta cordinha?
- Ah, acho que é de 10, talvez 15 pés.
- Pô, está parecendo a minha. Eu tenho uma de 10 pés.
- Ah, ô Luquinhas, então o que você está esperando, meu? O mar está perfeito, não dá nada cair com este leash.
- É, né!?
- Claro, meu. Entra aí, você vai se amarrar.
Era o incentivo que eu precisava. Na verdade, estava querendo um parceiro para não entrar ali sozinho na minha primeira vez, mas pelo jeito teria que ser assim. Passei pelos guris e avisei que estava indo em casa buscar a prancha. Fiz tudo o mais rápido possível, não queria perder aquela vontade que estava em mim.
Comparei meu leash com o do Júlio, eram do mesmo tamanho. Levei o meu, por parecer ser um pouco mais novo. Voltei correndo para a praia, o Cau e o Bruno estava na areia, tiraram umas fotos. Coloquei a tão falada cordinha no tornozelo, olhei para dentro do mar e esperei a hora certa, quando não entra nenhuma onda, e corri para dentro do mar. Pulei na água e remei com força, mas logo uma onda quebrou a minha frente, soltei a prancha, passei por baixo dela. Puxei-a de volta pra mim e continuei remando lá para fora.
Até chegar ao point, leva-se algum tempo, e nestes poucos minutos minha emoção estava à flor da pele. Ficava pensando que eu estava remando para Waimea, a maior onda de Oahu. Fiquei mentalizando os drops que eu faria, as ondas que iria remar. Além disso, quando estava quase chegando lá fora, entrou uma série, e foi lindo ver os surfistas descerem aquela água toda, que se movimenta com uma velocidade impressionante depois que atinge a bancada profunda que fica quase na frente do costão.
Como sempre acontece comigo, tive sorte no início da session. Cheguei lá fora, vi alguma ondas quebrando, me posicionei um pouco pra dentro do pico, mas não demais. E assim que entrou um série maior, virei a prancha e comecei a remar, vi que a onda tinha força o suficiente para me levar de onde estava. Acontece quando a condição atinge este tamanho, você precisa começar a remar bem antes de a onda chegar, para que quando ela chegue até o surfista, ele tenha uma boa velocidade e consiga descê-la sem ficar pendurado na crista da onda, o que proporciona um caldo pesado. Assim que aquela massa de água chegou até mim, senti que ia dar para descer, mas ouvi um grito de alguém que estava entrando também nela. A onda de Waimea, pelo seu tamanho, e porque a única manobra é o drop, é o único lugar do North Shore onde é permitido descer mais de um surfista na onda. Eu, inclusive, achava que os surfistas nem gritavam pelas ondas ali. Na hora em que ouvi aquilo, não tinha como voltar atrás, se puxasse o bico, certamente seria sugado, então dei mais algumas remadas e fiquei em pé. Olhei para baixo, e era uma ladeira de água, desci reto, com velocidade e segurança, só quando cheguei na base, virei o bico para minha direta e fiz o bottom turn. Passei por uma certa quantidade de espuma e sai no canal. Celebrando, sorrindo e com vontade de gritar. Nossa, acabei de fazer uma onda em Waimea!
Fiquei intrigado com aquele grito, até preocupado, porque descer ondas de havaianos pode significar um problema enorme. Além disso, quando olhei para o rastro da onda que tinha acabado de surfar, vi que o surfista que tinha gritado estava no meio da água branca produzida pela espuma, e que nadava em direção à sua prancha, um pouco distante dele. Achei que seu leash tinha estourado. Vi que ele chegou na prancha antes da onda seguinte quebrar, e fiquei mais aliviado, enquanto remava para fora, sem olhar para trás.
Dias depois, fui saber que aquele é o único surfista que grita quando vai entrar numa onda, ele não gosta que outros surfistas desçam com ele. E, na verdade, seu leash não havia estourado, ele simplesmente surfa sem este acessório. Por sorte minha, ele nem falou nada quando voltou ao outside, ou não me reconheceu.
Depois disso, fiquei mais à vontade no mar. Alguns brasileiros que estavam lá fora, até elogiaram o tamanho da onda que eu acabara de pegar. Ainda peguei outra onda grande, antes de pegar a terceira, e menor, para sair do mar.
Porém, a coisa que mais me chamou a atenção neste dia, foi a presença de uma surfista no line up, dividindo um espaço que é dominado pelos homens. Na realidade, nem sei se antes dela outras mulheres surfavam ali. Seu nome é Maya Gabeira, e ela é uma brasileira big rider, a menina é muito destemida, e foi dela a maior onda que vi enquanto estive dentro d`água. Foi muito legal ver uma mulher chamando a atenção de todos por sua habilidade e coragem. Toda vez que ela pegava uma onda, ao remar para fora, era elogiada pelos demais surfistas. Eu, como grande admirador da força das mulheres, fiquei bastante impressionado e feliz por ela.
Na hora em que resolvi sair do mar, entrou uma série enorme, e com muitas ondas. Elas não chegaram a quebrar em cima de mim, pois estava no canal, mas é necessário remar para o canto leste da praia para se sair do mar, por causa do Shorebreak. Só que com ondas enormes vindo sem parar, não havia como remar para aquele canto. Inclusive enquanto remava para fora, vi dois surfistas remando para dentro do mar, como se estivessem entrando naquela hora, mas eu os havia visto lá fora, sabia que estavam querendo sair. Inclusive um deles era o tal local que gritou na minha primeira onda, o outro era um curitibano, que disse-me:
- Cara, olha a hora que fomos inventar de sair. Acho que vou remar de volta lá pra fora.
Deixei que ele passasse por mim e fui atrás do havaiano, mais velho e mais experiente. Quando a série passou, começamos a remar forte em direção ao canto da praia, achávamos que daria para pegar um espuma para sair do mar. Porém, a quantidade de água que estava ali era impressionante, parecia corrente de rio, e carregava-nos, aos poucos, para o canto contrário ao que queríamos ir. Eu remei muito forte, foi mais cansativo aquele momento que todo o tempo que estive dentro do mar, surfando e vendo aquelas ondas gigantes. O meu amigo já estava quase na beira, quando ouvi pelo alto-falante dos salva-vidas, que eles diziam alguma coisa sobre nós para um jet-sky, que estava no canal cuidando da segurança dos surfistas. Ele logo se aproximou de mim, mas já estávamos tão próximos da zona de impacto, ou ele achou que já estava tudo bem, que afastou-se rapidamente, pude vê-lo indo conversar com o curitibano, que à esta hora remava para fora.
Logo em seguida o havaiano tomou umas ondas na cabeça, mas saiu do mar. Vi que estava bem próximo da praia, e era minha chance de sair. Se continuasse lutando contra aquela correnteza, provavelmente seria arrastado até o quebra-côco. Virei o bico, antes voltado para o canto, em direção à areia e remei o mais forte que pude. Quando voltei a olhar para fora, uma onda formava-se sobre mim, só deu tempo de soltar a prancha e mergulhar. Ela me chacoalhou um pouco, e por sorte, não vieram outras atrás. Peguei a prancha, remei numa onda menor, não para entrar, mas para ser arrastado pela força dela. Depois apenas deixei que uma espuma me levasse até a beira e pronto, estava com os pés na areia. Foi uma sensação de alívio e alegria. Tudo tinha dado certo, e eu havia surfado as maiores ondas de minha vida.
Caminhei pela areia e encontrei os guris, o Bruno disse-me que o mar tinha crescido depois que entrei e que achava que tinha filmado uma onda minha. Ele ainda não me mostrou, mas tomara que tenha feito o registro.
Depois de tanta emoção, fui pra casa. O Júlio chegou em casa e disse-lhe que havia surfado, ele ficou feliz e estava com muita vontade de cair também, mas o princípio de um resfriado o estava atrapalhando. Enquanto preparava o almoço, o Jadson incentivou o Júlio a surfar, pois ele queria também pegar aquelas ondas. O Julião acabou cedendo e foi acompanhar o menino. Disse que iria levá-lo até o outside e surfar só uma onda. E foi bem isso que ele fez, logo em seguida, voltou para casa. O Bruno saiu para filmar a ação e eu falei com o pessoal que estava em Porto Alegre, preparando um jantar na casa da Naiana. É muito bom ter amigos, e nestas horas damos um valor especial à tudo isso. Deu uma saudades de casa, mas também um vontade enorme de aproveitar ao máximo isso que é bem diferente de minha vida cotidiana.
No resto do dia, apenas descansei e fui ver se tinha alguém surfando em Pipeline. Por mais extremas que estavam as condições, haviam alguns surfistas aventurando-se por lá. As ondas nem estavam muito boas, tinha muita corrente e poucos tubos.
No início da noite, fui buscar os meninos no aeroporto. O vôo atrasou e fui até uma loja da Starbucks, aqui existe uma em todos os lugares. Quando sentei num banco, fiz isso entre duas pessoas, eles não estavam juntos, mas comecei a conversar com a menina, e depois com o cara, que lia um livro sentado em dhyánásana. Não é que ambos praticavam Yôga? Ele é uma australiano que mora em Bali e treina equipes de surfistas dando aulas de Yôga, e ela é chef de um restaurante Vegan no Arizona. Conversamos bastante e passei o site da Uni-Yôga para ambos, disse-lhes que em breve todo material seria publicado em inglês. Ele ainda disse-me para aparecer em Bali para visitá-lo e dar algumas aulas.
Quando desci para o saguão de desembarque, os meninos estavam saindo do vôo. Na verdade, além do meu primo, só conhecia um deles, o Guigui. Os outros dois são o Renan e o Thiago. Tirando o Ícaro, os três são de Balneário Camboriu. Quando eu lhes disse que eles tinham chegado no maior dia desde que eu cheguei aqui, o Icaro perguntou:
- Tá, mas que tamanho tem o mar?
- 15, talvez 18 pés.
Todos se olharam, rolou um silêncio. Achei engraçada aquela cena, mas os tranqüilizei, pois o mar iria baixar para o dia seguinte.
A casa ficou cheia quando eles chegaram, 8 pessoas, todas as camas ocupadas. Achei que iria rolar uma movimentação, mas o moleques estavam tão cansados que chegaram e foram dormir, alguns até sem banho (rsrsrs). Ainda perguntei se queriam acordar bem cedo na manhã seguinte, mas eles preferiram acordar ao natural, depois de 30 horas de viagem, não é fácil estar disposto para o surf.

sábado, 12 de janeiro de 2008

9/1 - The Real Hawaiian Power

Acordei às 5:10h, ainda era noite e dei inicio ao meu sádhana, com a intenção de mentalizar bastante, deixar o corpo solto e a consciência bem lúcida para o que estava por vir. Foi uma prática difícil de ser feita, porque eu não aparava de pensar nas ondas, imaginar os tubos, meus drops. Eram 5:50h quando acabei minha meditação e tentei acordar o Cauê pela primeira vez, ele nem respondeu. Fui até o Jadson e chamei-o, ele abriu os olhos, me olhou, e tornou a deitar a cabeça. Comecei a fazer uma vitamina, quando já estava pronta, resolvi dar uma nova chance aos dois. Chamei primeiro o Cau, que disse-me:
- Mas, meu, que tipo de surfista tu acha que é? Vai surfar de noite? – Arrumou-se entre o cobertor e nem levantou a cabeça.
Saí do quarto rindo e cutuquei o Jadson, desta vez ele levantou a cabeça e o tronco. Sentou na cama, e ficou me olhando.
- Vamos nessa, meu!
- Tá, tá. Estou indo, peraí.
Comemos um pouco mais, coloquei as quilhas na minha 6’9’, a única prancha que ainda não tinha sido estreiada aqui no Hawaii. Resolvi levar também minha 7’2”, caso o mar estivesse maior do que imaginávamos. Jadson também trouxe duas pranchas. Tive que incomodar bastante para sairmos de casa logo, já eram quase 6:20h. Antes de sair definitivamente, ainda voltei ao quarto:
- Cauê, tua última chance. Você vai ficar!
- Tá!
Surpreendi-me com a resposta:
- Vai ficar, então?
- Vou.
- Abraços.
No carro só toca o cd de mantras eletrônico que eu trouxe, e a faixa preferida do Jadson é Jaya Guruji Ôm Dê. Ela foi nos acompanhando até estacionarmos e irmos olhar o mar. Já havia uma enorme movimentação em Pipeline, vários carros estacionados, as cuas Volcom Houses estavam com as luzes acessas, surfistas saindo de dentro do portão da casa mais antiga, indo direto para dentro do mar. Encontrei o Paulo Barcelos olhando o mar:
- Viu, moleque, te disse que não precisava me chamar. – Disse-me rindo.
O mais impressionante foi olhar para o mar e ver que já tinham alguns surfistas dentro da água, principalmente bodyboarders. Ainda não era dia, Havia apenas aquela claridade, de quando o sol está quase nascendo, e aqui ele ainda nasce atrás de alguns morros, no leste. Portanto, estava quase escuro. Um brasileira que estava olhando o mar disse-nos:
- Eu já vi os caras pegando uns tubos, quase no escuro.
Loucura total! Perguntei-lhe sobre o tamanho do mar, ela não sabia dizer, mas haviam ondas com um certo tamanho, 6 a 8 pés. Muitas fechavam, mas estava já era o Pipe maior que tinha visto. Ainda perguntei para o Paulo:
- Com que prancha você acha que caio, 6’9” ou 7’2”?
- Cara, esta informação não sei te dar, só uso uma prancha, né!? - Ele é bodyboarder – Mas vem com a que tiver mais remada, isto vai estar um inferno.
Voltamos para o carro e resolvi arriscar com a prancha menor mesmo, ela tem uma boa borda, o que proporciona uma remada mais eficiente. Nós dois precisávamos passar parafina nas respectivas pranchas, e resolvemos fazer isso na beira da praia. Sentado na areia, olhando aquelas ondas barulhentas e poderosas quebrando, meu corpo tremia um pouco. Ainda não sei se pelo frio das roupas molhadas, pela emoção de surfar Pipe, ou pela adrenalina. Talvez um pouco de tudo. Eu sabia que não podia ficar olhando demais, queria entrar logo no mar. Ainda fiquei indeciso sobre a prancha, pensando em ir buscar a maior, mas o Jadson logo me chamou e fui com minha verde-amarela (são as cores dela) mesmo.
Assim que entrei na água, acalmei-me. Parece que tranqüilizo-me quando estou mais perto das ondas, vendo-as de uma forma mais real. Remando para o pico, vi que haviam, mais ou menos, 50 pessoas ali, e nem tinha amanhecido de verdade.
Tentei me posicionar no meio daquela multidão, o que não é nada simples, especialmente porque eu nem sei direito onde é que a onda quebra. Logo em seguida, entrou uma onda menor, mas indo quebrar num lugar onde havia menos gente. Remei nela, gritei, ninguém entrou comigo. Segurei na borda, direcionei o bico bem para a esquerda e vi um lip azul e grosso rodando lá na frente, eu estava entubando em Pipeline, continuei dirigindo a prancha, e sai seco de dentro dele. Nossa, aquilo foi muito emocionante. A onda não era muito grande, não havia ninguém com quem celebrar, mas eu quase dei um grito de alegria! Contive-me, comemorei comigo mesmo, ri sozinho e voltei remando para o pico. Ainda vi o Jadson pegando sua primeira onda, também um tubo seco, depois do qual ele ainda manobrou, distanciando-se de mim.
Os havaianos posicionam-se no melhor lugar para se surfar a onda, é como se eles estivessem sozinhos no pico, ninguém atreve-se a aproximar-se de onde eles ficam. Existe um respeito muito grande dentro da água, e eles utilizam-se bem disso. Num determinado momento, o Kala Alexander, uma espécie de cherife da onda, gritou com todo mundo:
- Hoje é um dia muito perigoso para alguém se machucar. Não pode remar na onda de ninguém. Se alguém entrou na onda, nem reme.
E todo mundo leva muito à sério este tratado que existe, toda vez que alguém realmente rema, ninguém mais nem tenta entrar na onda.
Ainda peguei mais algumas ondas, 7 no total, sendo que fiz um outro tudo irado. Fiquei lá dentro e na hora de sair, ela quase fechou, mas direcionei a prancha bem para cima e sai do barrel, feliz, obviamente. Houveram duas ondas que só corri, sem tentar entubar, mas em pé olhando aquela onda se desdobrar na minha frente.
Além disso, vi cenas incríveis, destas que eu muito já admirei em fotos e vídeos. Agora eu estava ali, vendo tudo ao vivo. Os tubos são gigantes, os drops são atrasados, e a velocidade da onda é incrível. Bom, sobre a força da onda, é algo que nem tenho parâmetros para descrever. Ela quebra com um power enorme, fazendo um barulho assustador toda vez que explode sobre a rasa bancada.
Antes das 9h, foi anunciado que o campeonato começaria em breve. Estamos em um período de espera, que começou dia 3 e vai até o dia 12, para a realização de um campeonato só para convidados, em sua maioria havaianos, chamado Backdoor Shootout. Houve uma solicitação para que todos deixassem a água, o que demorou um pouco, levando um havaiano a ficar indignado, xingando todo mundo.
Saí do mar com um enorme sorriso no rosto. Tinha feito boas ondas, sem erros e pegados dois tubos em Pipe. Para mim já estava super bom. Ainda fiquei olhando as ondas quebrando com pouca gente lá fora, é um lugar realmente incrível. Nunca vi nada tão intenso.
O Jadson saiu em seguida, e ficamos olhando o inicio do campeonato, mas logo fomos para o carro. Queríamos voltar para casa, comer alguma coisa, e surfar em algum outro lugar. Passamos por Sunset e Rocky Point para saber onde estava bom, além de ali. Sunset pareceu a melhor opção, é um lugar que funciona muito bem com esta direção de swell, northwest.
O Cau já tinha saído de casa, e o Julião passou ali para pegar outra prancha, estava indo para Sunset. Ficamos cerca de uma hora em casa, antes de rumarmos em direção à praia. Acabei estacionando em Pipe mais uma vez, enquanto descansávamos, iríamos aproveitar para ver o surf dos melhores surfistas naquela onda. Encontramos o Paulo Barcelos, sentamos ao seu lado. Ele ficou falando sobre seu conhecimento da onda, mostrando-nos as boas, as fechadeiras, as impossíveis, e aqueles que eram “só para bodyboard”. O mar não parava de crescer, e a quantidade de água que se movimentava ali fora era absurda, nunca tinha visto nada parecido. Era como se pudéssemos ligar uma máquina de lavar gigante e ficar observando o movimento das águas.
Logo depois o Bruno apareceu e vimos o Cau sentado na beira da praia. Ondas enormes e tubos grande foram surfados, apesar de as séries estarem bem demoradas. Por mais incrível que pareça, as ondas não paravam de crescer. Se pela manhã as maiores tinham 8 pés, agora já passam dos 10 pés, certamente. Ficamos ali até o início da tarde, eu estava afim de surfar mais, de ver como estavam as outras ondas. Disse que iria conferir Sunset, o Jadson veio comigo.
Quando estacionamos o carro, vimos o Júlio, e fomos falar com ele. Ondas enormes quebravam lá fora, ele disse-nos que foi a maior série do dia, e que tinha varrido todo mundo do outside. Permanecemos ali olhando o mar por algum tempo. Fiquei dizendo que deveríamos surfar, a adrenalina já estava correndo por dentro de mim. Decidimos voltar para casa, o Júlio tinha que pegar a prancha dele. Ele tinha surfado ali pela manhã, mas deixou a prancha em casa.
Quando chegamos em casa, o Júlio e o Jadson sentaram-se, um na frente da televisão e o outro, do computador. Estava louco para sair logo dali, mas, por insistência do Júlio, fui até Waimea Bay ver se estava quebrando um onda chamada Pinballs. Na verdade, é a mesma onda de Waimea, mas quando quebra até 12 pés, ele chama desta forma. Fui de bicicleta, mas nem fiquei olhando muito haviam poucos surfistas na água e parecia estar bem demorado.
Voltei pra casa e fomos para Sunset. Estacionamos os carros, e enquanto nos arrumávamos, Julião falou:
- Ó meninada, vamos entrar com calma. Sem ansiedade. Vamos remar lá pra fora tranqüilos e pegar umas duas ondas. Sem afobação, viu, Lucas.
Ouvi tudo atento, o Jadson também ficou sério, concordando com tudo. Ele estava com uma prancha bem pequena para aquelas condições. Eu ia surfar com minha maior prancha, um 7’6”.
Assim que chegamos na beira da praia, o Júlio olhou para o mar, que estava enorme:
- Cara, não tem mais ninguém no mar! Será que devemos cair?
- Pô, Julião, quem sabe é você.
- Ah, vamos lá pegar duas ondas e sair, está muito over este mar.
- Quem sabe a gente não cai, então?
Nesta hora o Jadson me disse para não falar nada, iríamos cair agora que estávamos ali. Enquanto eu passava parafina na minha prancha, os dois foram para dentro da água. Demorei um pouco mais e quando entrei eles já estava quase no outside. Para entrar na água já era preciso um certo esforço, havia ondas enormes quebrando bem na beira. Passei por elas e remei para fora.
Quando estava quase chegando lá fora, vi que, além dos meus amigos, haviam três surfistas, mas eles remavam para baixo do pico, como se quisessem ir para o inside da onda. Na realidade, eles estavam querendo sair, pois as condições estavam realemente fora de controle ali, mas na hora nem percebi isso.
Vi que o Júlio e o Jadson estavam mais para fora, remando para o lado oeste, à esquerda que quem rema lá para fora. Sunset é um lugar onda as ondas movimentam um enorme de água, sempre quebrando para a direita, e tem um canal profundo. O que facilita a chegada ao outside, mas dificulta o posicionamento dentro da água, as ondas quebram em vários lugares, nunca há só um pico definido. Neste dia, então, não havia nada definido.
Assim que cheguei próximo aos dois, eles remavam em direção ao canal, e eu já estava mais dentro do canal, apenas continuei remando para minha esquerda. Acontece que nesta hora vi uma série enorme entrando, marchavam ondas que eu nem podia calcular o tamanho.
Quando a primeira chegou, eu vi que tinha, no mínimo, 12 pés. Passei por cima dela, sempre olhando para a direita, para ver meus amigos. Na segunda onda, que tinha o mesmo tamanho da primeira, remei, pois sabia que atrás viriam ondas maiores. Não consegui entrar na onda, mas ainda estava, na minha concepção, bem posicionado, quase no canal.
Assim que a segunda onda passou, olhei para trás e tive um visão assutadora, a terceira onda entrava bem de oeste, ou seja, bem em cima de mim. Os dois passaram pela onda sem que ela estivesse quebrando, mas em cima de mim ela explodiu. Soltei a prancha, peguei o máximo de fôlego e desci o máximo que pude. Sabia que iria girar muito, e foi o que aconteceu. Ainda consegui pegar um pouco mais de ar, antes que ela me puxasse para baixo uma segunda vez. A quarta onda da série também quebrou na minha frente, e eu mergulhei, tentando ser levado ao máximo, para não ficar na zona de impacto, onde os ondas quebram. Na onda seguinte, consegui pegar a prancha e já estava mais distante de onde ela explodiu. Passei por baixo e virei o bico para a areia logo depois. Remei feito um louco, e toda vez que olhava para trás, via mais ondas enormes entrando, por sorte estas entravam mais de norte, indo quebrar longe de mim. Queria também saber como estavam os dois lá fora, mas não os via. Quando cheguei no inside, peguei uma pequena, para o dia, e surfei-a o máximo que pude. Depois remei o mais forte que pude, e fiquei muito aliviado quando toquei meus pés na areia.
Já fora do mar, vi que o Júlio estava saindo mais para o meio da praia. Depois ele me contou que tomou uma série enorme na cabeça, foram umas dez ondas enormes, que o arrastaram para a beira. O Jadson ainda estava lá fora, mas já mais no inside, onde pegou uma para se aproximar mais da beira.
Quando nós nos encontramos no estacionamento, riamos e celebrávamos que nada de mais sério havia acontecido. Estávamos muito adrenalizados, tinha sido muito intenso aqueles poucos minutos em que estivemos dentro do mar. Acho que as risadas eram também de nervosismo. Cada um tinha passado por uma experiência diferente, mas as três eram de um sufoco enorme. O Júlio chegou a dizer que nunca tinha passado um terror tão grande aqui, e ele já mora aqui há 17 anos. Ambos me xingaram um pouco, pois eu que havia incentivado o surf ali:
- Pinballs deve ter altas e a gente passando este terror aqui, Lucas. – Disse-me o Júlio.
- Poxa, mas eu sou novo aqui. Eu olhei e não achei bom, né!
Júlio foi embora, e eu e o Jadson voltamos para Pipeline, ver a ação dos locais por lá. Quando chegamos na beira da praia, eu simplesmente não conseguia acreditar que havia gente surfando aquelas ondas, já chegavam há 15 pés, o que significa que, olhando-se de frente, as faces tinham 10 metros, talvez mais. Toda vez que alguém descia umas daquelas massas de água, a praia toda silenciava. Estava emocionante demais. Ficamos por ali vendo tubos insanos sendo surfados. Em dias como estes, há uma seleção enorme de qual onda surfar, o que torna cada drop, cada tubo, mais precioso.
Voltamos para casa, e o Cau estava em Waimea. Fui lá ver a maior onda de Oahu funcionando. É realmente um espetáculo da Natureza, o poder do oceano mostra-se ali com toda sua grandiosidade. O mais incrível é que existem seres humanos que vão lá com suas pranchas, interagir com aquele movimento de águas.
A onda quebra bem longe a praia, diferente de Pipeline. Isso fez com que a intensidade de Pipe me tirasse dali. Falei para o Cau que queria ver mais um pouco do surf por lá. Eu sabia que eles iriam acabar o campeonato antes do final do dia, e vários surfistas entrariam no mar para enfrentar um big Pipe.
Foi exatamente isso que tinha acontecido, quando chegamos na praia vimos varias pranchas tentando surfar ondas enormes e pouco perfeitas. Estava tão grande, que nem os tubos, maiôs característica desta onda, estavam quebrando. Mesmo assim ficamos assistindo a movimentação por ali. Teve uma série que tinha tantas ondas, e quebrou tão longe de onde todos estavam, que praticamente todos os surfistas foram expulsos do mar. Sorte deles.
Quando cheguei em casa, o Júlio disse-me que no dia seguinte estaria maior, e ele iria me chamar para surfarmos Waimea. Ele tinha uma prancha grande e me emprestaria. Pedi que me acordasse cedo, e fui para o quarto logo em seguida.
Na hora em que me deitei para dormir, fechava os olhos e lembrava daquela onda quebrando na minha frente, chamei o Cauê para conversar um pouco com ele, e compartilhar o que tinha vivido. O Cau disse-me que estava no quarto com o Jadson, e o menino dizia que iria ter pesadelo, que tinha sido intenso demais. Falou que quando viu a onda quebrando em cima de mim, olhou para trás e pensou: Deus, cuida do Lucas!
Dormi sabendo que tinha vivido um dia de verdadeiro surf no Hawaii, e era apenas o primeiro.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

8/1 - Começou a subir

O dia começou com sol, pouco vento e nada de nuvens, mais uma vez. São os primeiros dias que não chove, desde que chegamos aqui. Isto me deixou muito feliz, com vontade de aproveitar mais a praia, o mar e as ondas, que continuavam baixas.
Fomos até Off The Wall, e a água estava de um azul bem clarinho e transparente. Via-se o coral por debaixo das pequenas, mas tubulares, ondas que quebravam. Aquilo me empolgou para surfar ali mesmo. Voltei para casa e chamei o Jadson, o Cau disse que iria de bike.
O surf não estava muito bom, mas já dava pra sentir a potência daquelas ondas. Acabei remando para Pipeline, onde vi as cavernas que ficam abaixo de nossos pés. Peguei poucas ondas, mas foi bom surfar ali mais uma vez. Minha saideira foi para Backdooor, mas sem tubo, apenas manobrando. Da areia, vi o Cau, que estava em Off The Wall. O Jadson saiu logo em seguida, depois voltou para dentro do mar para avisar Cauê que estávamos indo embora.
Em casa, o Jadson ficou insistindo para irmos para o centro comprar sues eletrônicos, mas eu tinha que fazer as compras de comida para a casa. Acabei optando pelo dever ao lazer. Fui com o Júlio no Cotsco, desta vez com uma lista na mão, para agilizar as compras e voltarmos com tempo de darmos uma queda no final de tarde.
Quando voltei o Cau tinha ido buscar emprego em Haleiwa,e fui com o Jadson para Rocky Point. No caminho de volta para casa já deu para ver que o mar tinha subido, mas chegado na praia foi impressionante perceber como as ondas crescem rápido por aqui. Ali já tinha uns 5 pés de onda, bem diferente da manhã, quando não passava de 2 pés. O crowd era intenso, talvez pelo fato da temporada estar muito fraca, talvez também porque Pipeline estava fraco. O fato é que haviam vários prosurfers havaianos na água, e quando eles aparecem, sempre pegam as melhores ondas.
Todas as ondas que peguei fecharam, ou alguém entrou na minha frente. Aquele foi o mar mais difícil que surfei aqui, no quesito surfar uma onda boa sozinho. Remei para todos os lados, tentei ir em onda pequena, grande, para a esquerda, para a direita, e nada adiantou. Eu praticamente não surfei, só remei. Vi o Jack Johnson pegar um tubo profundo e muito bem surfado. No final da onda, que assisti de lado, saiu um spray do tubo, e ele continuava sumido, aparecendo alguns instantes depois. Muitas pessoas celebraram, de dentro e fora da água. Estes momentos fazem valer e pena estar ali, mesmo sem pegar muita onda.
Saí do mar chateado pela session que se encerrava, mas feliz, porque as previsões estavam se concretizando. Ainda lá no outside, o Jerônimo Vargas, surfista brasileiro da nova geração que entuba muito bem e é atirado em Pipe, me disse:
- Cara, e estas ondas amanhã?
- Vai entra mesmo o swell, né?
- Claro. Tem que ir para Pipe de noite.
- Tipo umas 5 da manhã?
- Eu, no ano passado, acordava neste horário e ia caminhando, chegava lá um pouco antes das 6h. Daí dá para ficar sossegado ali na beira olhando o dia clarear, antes de entrar no mar. Mesmo assim, neste horário já tem alguns bodyboarders na água.
Na areia, ainda encontrei com o Paulo Barcelos, que me disse que o dia só clareia mesmo depois das 6h:
- Chegando às 6:30h, você entra no mar junto com o clarear do dia.
- Então, ta. Amanhã passo lá para te acordar – Disse-lhe, pois ele está hospedado quase na beira de Pipeline.
- Não precisa, não. Eu já vou estar de pé.
Depois do surf, ainda levei o Jadson para comprar o seu último brinquendo, uma filmadora. Chegamos lá, sabe-se lá como, porque nem sabíamos onde ficava a loja, e ainda faltando 30 minutos para o fechamento.
Voltamos para casa com mais um equipamento para registrarmos o surf, eu comprei um tripé, pois o que tínhamos aqui está bem ruim. Já em casa avisei aos dois:
- Meu, amanhã vou acordar cedo, e não vou esperar quem ficar se amarrando. Quero acordar às 5h e sair de casa lá pelas 6h.
- Não, pode me acordar, mas tem que ver se eu abri os olhos. Se eu realmente estiver acordado, não tem erro. Quero ir, sim.
O Cauê não falou nada, mas eu iria chama-lo de qualquer forma. Ainda vimos o início de um filme, e conversei com a Naiana, que tinha acabado de dar aula para minha turma, às 7h da quarta-feira, lá no Brasil. Disse a ela que surfaria um Pipe de verdade, e ela desejou-me sorte.

7/1 - Easy day

A semana começou com um dia lindo. O sol brilhou o dia todo haviam poucas nuvens no céu, e praticamente não teve vento. Depois do meu sádhana, acordei os meninos e fomos para Rocky Point, já sabíamos que o mar estaria pequeno, então fomos para curtir mesmo.
O Jadson levou uma máscara para ficar mergulhando, o Cau foi junto. Deitei-me na areia para ler um pouco, e ficamos ali curtindo o dia de praia que ainda não tínhamos vivido.
Logo em seguido, apareceu o Sebastina Rojas, fotográfo de uma revista de surf, e convidou o Jadson para entrar. Ele aceitou de imediato. Com o mar pequeno é necessário fazer fotos de bem perto, e as manobras aéreas são muito utilizadas para este tipo de trabalho, e isso o Jadson faz muito bem. O Cau assumiu a máscara e foi lá pra fora, ver os corais sob os quais surfamos. O Bruno e a Sabrina já tinham chegado, e ela ficou me fazendo companhia na beira.
Depois de um certo tempo, comecei a enxergar umas ondinhas , e fui para dentro d’água. Não encontrei nenhuma onda boa, mas foi bom dar um mergulho. Quando estava entrando vi o Jadson dando um aéreo muito alto na frente do fotógrafo, foi irado. Ele completou a manobra, e ambos ficaram bem felizes. Tem sido uma temporada difícil para todo mundo que precisa fazer imagens de surf aqui no Hawaii.
Voltamos para casa depois de vermos as imagens que o Sebastian nos mostrou logo depois do surf. O dia estava muito agradável, e eu e o Cau fomos mergulhar aqui na frente de casa.
É incrível como a profundidade aumenta rapidamente aqui, basta nadar um pouco para fora para perceber isso. Na realidade, o que disfarça isso são os corais, mas assim que surge uma fenda nota-se que realmente estamos no meio do oceano, porque os buracos são bem fundos. Achamos um desses bem aqui na frente e ficamos ali mergulhando durante algum tempo.
Depois do almoço, não resisti e tive que tirar um cochilo, mantendo vivo o hábito do meu pai. Desde que cheguei aqui, foi a primeira vez que fiz uma ciesta, também aproveitei para descansar, pois a previsão é de que o swell cresça bastante a partir. Tudo indica que amanhã o mar começa a crescer, e as ondas atingirão seu ápice na quinta-feira, chegando à 15 pés, o que significa faces com até 10 metros
À noite combinei com o Julião de irmos no mercado comprar comida para todo mundo que vai ficar na casa. Acabei optando por trazer o meu primo e seus amigos para cá, pela localização da casa, e também porque a corretora, que já tinha me dado dois bolos, insiste em me enrolar e faltar aos encontros que marcamos.

domingo, 6 de janeiro de 2008

O início do ano!

Os três primeiros dias de 2008 foram bem difíceis por aqui. No primeiro deles eu estava tão mal que passei o dia todo deitado, dormindo e suando muito. Todo meu corpo doía, minha cabeça latejava e a sensação momentânea era tão ruim, que pensava que teria que ir embora. Pensei muito na minha cidade, na minha casa, minha cama, nos meus pais, na Naiana, e no quanto ela cuida de mim nestas horas. Tudo isso foi muito forte naquela hora, pelo fato de a doença ter me deixado muito sensível. Graças à um momento de lucidez, decidi que ia melhorar rápido, mentalizei luz verde e lilás por todo meu corpo, procurei senti-lo já forte e saudável, e isso foi importante para o inicio da recuperação.
No dia 2, fiquei bem preocupado porque o Cau pegou minha gripe, e foi a vez dele de ficar o dia todo no mesmo processo, dormindo, suando, reclamando de dor no corpo e na cabeça. Sentia-me duplamente mal, por ter lhe transmitido a gripe, e por saber exatamente o que ele estava sentindo. Fiquei em casa o dia todo. Lá fora ventava, chovia, e o sol apareceu muito pouco. Eu e o meu pimpolho tínhamos muito frio, à noite qualquer brisa nos fazia tremer.
No dia seguinte, eu já estava melhor, e ele dormiu bastante, mas no final do dia, fomos à casa do Bruno. Era seu aniversário, e a Sabrina, sua namorada, fez doces, bolos e convidou alguns amigo para uma festa surpresa. Ficamos lá por algum tempo, mas no caminho, passamos no supermercado e comprei limão e alho, lembrei destes ingredientes poderosos quando acordei à tarde. Fui na cozinha e comi um limão cru, o que me fez muito bem.
Quando voltamos para casa, fomos preparar um chá de limão, alho e mel. Porém, eu estava tão desesperado para melhorar que comi meio dente de alho cru. Tentei convencer o Cau a fazer o mesmo, mas ele não gosta de alho. Aquilo me deu um calor enorme por dentro, e, não sei se foi exatamente pelo alho, comecei a melhorar. Tomamos o chá contra nosso paladar, mas aquilo abriu nossos poros, fazendo-nos suar muito.
No dia seguinte, sentia-me muito melhor, as dores no corpo tinha parado, a cabeça já não estava estourando, a febre parecia ter sido eliminada. Apenas uma tosse muito forte apareceu. Logo pela manhã tomamos mais uma xícara do delicioso chá e ficamos mais um dia de molho. Fomos ver o mar algumas vezes, mas, para nossa sorte, foram dias de ondas bem ruins. À noite, o Cau não conseguia nem mais sentir o cheiro do alho sem que aquilo lhe trouxesse um asco. Obriguei-o a continuar com o tratamento.
Finalmente, no dia 5 acordei sentindo-me quase 100%, a única coisa que continuava me incomodando era a tosse. Decidi que iria surfar, para mexer o corpo e colocar o muco pra fora. No final da tarde fomos à Rocky Point, não estava muito bom, mas deu pra surfar algumas ondas e sentir o corpo voltando ao normal. O Cau preferiu esperar mais um dia.
Hoje, dia 6, o dia amanheceu lindo, como não tínhamos visto este ano. Um sol quente brilhava num céu azul piscina, com pouquíssimas nuvens no céu. As ondas estava pequenas, mas perfeitas porque o vento soprou terral durante quase todo dia. Surfamos em Rocky Point, curtimos um tempo na praia, fizemos uma comida em casa, descansamos e vimos um pôr-do-sol lindo em Pipeline, enquanto o Jadson surfava. Foi super animador, porque o vento não soprava forte, as ondas estavam bem alinhadas, apesar do tamanho. Condições que não tínhamos visto aqui até agora.
Desde que ficamos doentes, estamos acordando bem tarde, mas hoje fizemos um pacto de acordar cedo e surfar sem crowd amanhã. Este processo de melhoria da saúde, acabou me tirando o ânimo para escrever, mas como hoje vivemos um dia tão agradável, acho que voltarei a relatar as aventuras desta viagem.